segunda-feira, 23 de abril de 2018

Playlist.


Ontem eu coloquei a minha playlist pra tocar
E tocou aquela música
A nossa música
Senti um vazio desesperador pousando bem do meu lado
O vazio que tomou conta quando você foi embora
A música começou e foi como se eu tirasse a tampa de um liquidificador
E visse todos os nossos momentos lá, emaranhados
Triturados
Felizes e despedaçados
E a música tocando e eu lembrando de você cantando ela pra mim
Dizendo que lembrava da gente naquela frase
Tocando ela no violão e fazendo dela a nossa música
E eu lembro quando recebi uma mensagem sua com um trecho daquela canção
E cada frase daquela música me lembrava um beijo
E cada beijo me lembrava um momento infinitamente efêmero
Momentos fumaça que eu tentava agarrar e sumiam
Você foi fumaça que eu tentei agarrar e sumiu
E eu sou cinza que ardeu em paixão e chamou por ti todas as noites
Com o coração queimando em solidão
O mesmo coração que hoje se apagou
Mas mantém, bem no fundo, a brasa escondida
Que inflama cada vez que eu ouço a nossa música.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Estrela cadente.


Esses dias eu vi uma estrela cadente
Foi a minha primeira
Eu estava sentada no pátio de casa, ouvindo uma música que me faz flutuar por dentro
Em um dado instante, resolvi abrir os olhos e olhar para cima
E no exato momento que eu decidi enxergar, eu vi
Eu vi uma estrela riscando o céu e fiquei sem ar
Abri a boca e meu queixo chegou pertinho do chão, mas não caiu
Minhas mãos foram recolhê-lo e pousaram no rosto
Meus olhos inundaram
Meu corpo parou
Saí do transe um segundo depois com meus pensamentos explodindo de felicidade
Parecia que meu corpo implorava para ter mil bocas para que mil vezes eu pudesse dizer o quanto eu estava feliz o mais rápido possível
E no fim não consegui dizer nada
Era a minha primeira estrela cadente
Tão rápido quanto ela desapareceu, pensei:
PUTZ!
Esqueci o pedido!!!
COMO EU FUI ESQUECER O PEDIDO?!?
Na mesma hora, me perdoei
Ora, valeu tanto a explosão de alegria e a estreia da estrela cadente na minha vida
Que era como se o pedido já tivesse sido cumprido
Isso me fez pensar que algumas coisas na vida são como a minha primeira estrela cadente
Elas aparecem
E a gente acha que elas vão fazer alguma coisa lá na frente por nós
Estrelas cadentes que realizam nossos desejos
Causas realizando consequências
E a gente esquece da alegria de simplesmente ter a estrela ali
Esquece da sorte de ter visto ela passar, por mais rápido que tenha sido
Não se dá conta de perceber o brilho indescritível que emana dela iluminando nossa alma 
E fica triste por não saber o que pedir
Mas pedir pra quê se dá pra ser feliz com ela naquele momento só de vocês?
A linda estrela cadente ali, naquela noite só sua
Então me dei conta de que a minha estrela não apareceu para realizar meu pedido
Ela mesma se tornou ele
Meu pedido provavelmente seria o grande clichê
“Quero ser feliz”
E por causa dela
Naquele momento eu já havia sido
Essa estrela cadente era das boas.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A varanda.


Aquele dia eu desaguei
Virei o eco de uma dor que vinha do fundo do peito e transbordou pelos olhos
Meu rosto marcado pela trilha das lágrimas e a boca com gosto de cigarro
O cigarro que eu fumei na tua varanda enquanto tu pendia em sono no sofá
E eu ali
Desaguando e fumando e chorando e morrendo
Eu sabia que ia doer
Já tava doendo
E doeu mais
E como foi horrível ver o amor morrendo na minha frente
Bem ali, agonizando naquela varanda
Apagando naquela cinza de cigarro
Escorrendo naquela lágrima
Um amor que morreu e respirava com ajuda de aparelhos
Voltei da sacada, te vi no sofá, desliguei a TV e te chamei pra cama
Dormimos com o cadáver de um amor entre a gente
E como eu já sabia, o velório chegou
E nesse dia eu acendi mais um cigarro
E desaguei mais
Dessa vez, sem a varanda.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O que me tornei.

Tem uma frase da Coco Chanel que eu gosto desde criança
Ela diz assim
"Eu já não sou o que era. Devo ser o que me tornei"
Você já passou por aquele momento da vida
Em que tudo parecia perfeitamente definido
Seu jeito de se vestir
De falar
Seu gosto musical
Suas cores favoritas
E de repente tudo vira de ponta cabeça
E você se olha no espelho e percebe
Que você não é mais aquele você?
Você é outro
Um Você meio desconhecido
Que talvez sempre tenha estado ali
Mas um Você com quem ainda é necessário conversar
Puxar uma cadeira
Olhar dentro dos olhos tímidos e um tantinho amedrontados
Por a mão no ombro de Você
E falar
"Bom, aqui estamos.
Acho que chegou a hora de nos conhecermos"
E tão rápido quanto Você apareceu
O resto vai desaparecendo
E você vai se tornando Você
Sem medo nem culpa
E entendendo que nada daquilo que foi embora vai fazer falta
Você agradece por ter feito isso
E por ter encontrado Você no outro lado do espelho
E dá uma alegria danada perceber que Você é aquilo que você se torna mesmo.

Fones de ouvido.


Sabe aquele lado do fone
Que parece que está sempre mais baixo que o outro?
Eu fico me perguntando sempre se estou sendo injusta com aquele lado
Ou se ele realmente está mais baixo
Tiro o fone mais alto e me certifico que o outro ainda funciona
Me contento com isso e volto a usar os dois fones
Mas fica sempre aquele incômodo
Você é o fone mais baixo
Que às vezes parece que parou de cantar nossa música
Enquanto meu lado do fone continua funcionando a todo vapor
Gritando nossa canção pro mundo
Até eu me sentir incomodada com nosso desequilíbrio musical
Injustiçada por cantar sozinha
Tirar o lado esquerdo do fone do ouvido
E finalmente perceber
Que o lado direito
Pifou

É nessa hora que eu tiro os fones
Ouço o som da vida lá fora
E espero até encontrar outro
Que valha a pena desenrolar os fios
Pra dar play em uma nova canção