segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Um breve sobre estrelas-guias.

Particularmente acho lindo a maneira como o amor flui. O impulso que a vida dá para que o amor nunca acabe, sempre se entrelaçando e reenlaçando. Movimento contínuo - seguir em frente por quem vale a pena.  Eu me afogaria mais mil vezes para resgatá-los denovo.
Sim, afoguei-me, mas me resgatei. Eu desafoguei meus amores verdadeiros! Passeamos e rimos, fomos crianças risonhas e despretensiosas. Adoro o jeito como meus amados são tantos e tão puros e tão de verdade em um cenário tão corrompido como o meu coração, por vezes, tão sujo. Meus escritos são errôneos demais para, por alguns momentos, conseguir descrever a maravilha que vocês me são. Obrigada por clarearem meus dias nebulosos e por serem hoje a luz que está brilhando dentro desse peito cansado. Estrelas-guias, só peço que me levem para algum lugar onde a dor seja tão pequena quanto as tréguas de nossas gargalhadas.

domingo, 25 de novembro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 6


Baseado em uma história real.

Tenho o dom de estragar tudo. De ser ruim, grossa, inoportuna, inadequada, inabitável. Nunca dou uma dentro e acabou. É assim mesmo e preciso entender: as pessoas são mais felizes longe de mim. Preciso protegê-las do grande monstro que tenho aqui dentro. Preciso afastá-los antes que eles se aproximem demais.
Como sempre, errei outra vez. Erro e caio e julgo e grito... E me arrependo e não me arrependo ao mesmo tempo, e isso magoa tanto! E sei que dilacera mais ainda quem eu não deveria magoar. Os irmãos de alma, os amores puros. Mas no caminho vou perdendo tudo, toda a graça e todas as piadas e fico levando apenas o peso da minha tristeza bruta e de todo o esquecimento ao qual o mundo me entregou. Perco minhas arestas, perco meus amigos e perco mais e mais ainda a minha parte feliz. Reclamo, clamo e re-clamo pelo que me anima e me faz bem, mas eles não aguentam mais. Aquele que eu queria tanto como irmão... Não passa de um tio distante. E a debutante é uma conhecida que cruza por mim nos ensaios das peças, as minhas amadas peças.
Agora a vergonha apoderou-se das frases, das brincadeiras e das músicas. Nunca mais os mesmos e nunca mais nada. Os laços se romperam e eu tenho vergonha de reatá-los, porque talvez nunca devesse ter enlaçado nada. Quem sabe eu seja isso, essa meia-irmã que não cabe em uma família tão simpática. A separação sem despedida mais triste que já vi. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nossa casa.


Fiz um desenho seu e deixei colado na geladeira.
Se nós não conseguirmos, tudo bem. Tentamos.
Mas juro que os gizes de cera estarão sempre à sua disposição. Você me desenha com um laço rosa no cabelo, e eu rabisco seus cachinhos com o giz preto. Depois pegamos um livro e vamos ler embaixo de uma árvore, cada um lê um trecho. E não terminamos a história – gosto do suspense na sua voz quando nos deixamos inventar o final.
Nós podemos sair da cidade e passar a tarde deitados na areia olhando as ondas se quebrarem. E quando voltamos, ficamos brincando com almofadas que gostamos, aquelas que juntamos dinheiro para comprar e enfeitar nossa casa. Daquele jeito bem colorido e bem bobo. Você é lindo e seus olhos me dão vontade de mergulhar neles. Os mistérios que você parece ter só me encantam mais – gosto da maneira como andamos de costas e você fica sério de repente. Respeito seu silêncio triste, mas logo você corre pra me pegar no colo e me diz que gosta do embalo de nossos corações. Eu amo o jeito como rimos e como o amor se sente à vontade conosco e como eu te lambuzo de macarrão levando o garfo até sua boca no meio da janta. Eu amo o jeito como desenhamos nossa história com gizes de cera. Eu só não te amo porque se eu disser isso, vamos desaparecer na hora. Prefiro viver buscando um pouco mais de amor em nós a cada dia do que me conformar em ter você, embora isso seja um ótimo motivo para conformação.
Quando seus olhos param nos meus e seus braços envolvem minha cintura, sei que estou segura. E quando o seu beijo congela as batidas do meu coração, aí é que tenho a certeza de que estou viva.

A chuva caiu sobre nós e te abraçar e te descobrir encharcado de chuva e perfume me deixou mais encantada. Aquela seria a noite chuvosa que sucederia a tarde ensolarada da nossa composição. Nossa música será sempre um plural nosso singular. Um pouco de cada um e completa em si. Duvido que eu encontre um quebra-cabeças tão bem feito como nossos encaixes de erros perfeitos.



quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 5

O coração que perdeu o encaixe.

                Lembro ainda hoje de nossas piadas, nossos jargões e nossa corrente. Inseparáveis que éramos. Foi, talvez, o sentimento mais puro e mais intenso que em mim brotou. Nossa amizade ficou marcada, apesar de o tempo borrar um monte de lembranças de nós. Falando em nós, muitos foram os que atamos e desatamos. Muitos fomos nós. Talvez o maior arsenal de faces que eu tenha descoberto em mim foi com você. Doeu nossa separação, não doeu? Pra mim doeu. Foi lenta, estupidamente lenta. Aos poucos te perdi. Deixei pra trás o meu abraço mais confortante. Tanta coisa, tanta coisa! Eu juro pra você que, se eu fosse o pingente de coração de nossa corrente, preferiria nunca ter existido. Pobre pingente solitário. Ainda amo a maneira como ele reflete no sol e o encaixe perfeito que tinha com o seu. Pena os dois nunca mais terem se visto.
                Ainda acho que fomos egoístas e descuidados. Uma ligação que fosse poderia ter nos mantido vivos todos os dias. Que tempo perderíamos? Imagina como seria bom uma separação brusca... Eternizaríamo-nos no auge de nossas venturas. Você foi, por anos, meu êxtase total. E lembro agora de minha fascinação por te rodear e te confiar todos os meus amores e dissabores. E quantos foram, e quantos fomos... E quantos somos hoje.
                Ainda guardo as cartas e os rabiscos e as piadas e o texto que eu fiz pra você, e você pra mim, todos em uma caixa forrada com um papel bem colorido, pra lembrar nossa amizade arco-íris. Linda, intocável e imaculada amizade. Como pode ter-se perdido? Quando relembro, surge a dor da distância incalculável de nossos corações. Nesses últimos dias voltei a ouvir nossas músicas. Sim, nossas. E junto delas vieram as historinhas sutis e as graças. Peguei-me rindo sozinha tantas vezes! Temos um mundo todo particular. Talvez nem seja mais nossos. Nem nós somos mais quem eram os “nós” daquele tempo de ouro. Minhas lembranças mudas estão me petrificando... Queria que fosse impossível tirar um dia o seu nome do meu coração. Hoje dói saber que podíamos ser nada mais do que somos somente entre nós. Você poderia ser madrinha do meu casamento, dos meus filhos, das minhas lembranças... Minha eterna madrinha.
                Será mesmo que nunca morreremos? Porque em mim tudo está tão vivo... Tão longe, mas tão vivo! Somos cheios de promessas e cheios de contratos pela metade. Eu jurei não perder a gente, e perdi, e você também perdeu, e hoje somos amigos que se cruzam na rua com um sorriso amarelo, envergonhados de não termos corrido um pouquinho mais. As fotos, as palavras perdidas no meio do conteúdo do caderno, alguns vídeos e muitas lembranças fazem parte de um repertório só nosso, cravado no fundo de um baú doloroso de se remexer. Disseram que “quando mais mexe, mais fede”. Posso dizer que nosso aroma é doce, sempre doce. Os anos passaram e nossa amizade estacionou em uma via muito movimentada. Movimentada demais para querermos nos importar com seu peso. Tínhamos muitos outros para levar dali adiante. Nossos corações decididamente pela metade. E sei que nem adianta voltar, o “fardo” petrificou de tanto esperar para seguir conosco. Queria te chamar para um café e pedir para você usar de novo a correntinha. Porque nunca deixei de usar a minha, nem que seja em pensamento, a cada início de manhã que eu olhava para ela pendurada no espelho e queria que tudo fosse inteiro outra vez.