quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Prólogo.

Insight
Prólogo

É impossível começar uma história de um meio que não existe.  O porém é que tenho plena confiança de que não posso me descrever, não como eu gostaria. É difícil relatar todos os lados do prisma, nenhum é igual, nunca. Um lado é mais bonito, o outro está totalmente corrompido. Esses são os meus lados, os lados de uma Melissa que não consegue sob seu próprio juízo criar uma vestimenta para si mesma. O que posso dizer é que meus dezoito anos não condizem com minhas experiências de vida. Morena, cabelos cacheados na altura do meio das costas, pele clara e lábios rosados demais. Minhas colegas do Tiotte dizem que sou do tipo magra bonita, mas não acho que seja assim - em casos extremos como os bailes de final de semestre, quando estou maquilada e com vestidos que modelam minha cintura, concordo com elas. Meus 1,75 metros me ajudam bastante nas aulas de vôlei com Sarah - Os 1,60 metros de Sarinha às vezes atrapalham, às vezes não. O principal de mim, o essencial de mim está em algo que não é exatamente algo. Estevão tem me tomado de uma maneira inexplicável, extremamente avassaladora. Morro por dentro a cada intervalo das aulas de Física. Algumas pessoas tem o dom de corroer outras - ele é o ácido mais forte da minha existência, aquele que deixei penetrar no meu âmago e destruir tudo o que já tive. Mas o pior efeito é que o ácido ainda está lá, corroendo e amargurando minha memória, consumindo cada vez mais meu coração. O meu sonho não é Estevão. Meu sonho é viver com Estevão, não possuí-lo, porque não o quero sozinho. No fundo, Estevão sabe que o melhor lado dele somos nós dois.
Em um campeonato de corações partidos, meu coração sempre é o mais estraçalhado. O Alvar Tiotte me reservara um tempo de tristezas e provações, e eu aceitei o convite logo que voltamos para Zafira, minha cidade natal. Mesmo depois de oito anos, um país como Dronni ainda conservava os bons costumes e a tradicionalidade de Zafira. E nesse processo de remontar minha vida, descobri novos lados de mim, vendo-me como um autêntico prisma humano. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo[s] de um livro esquecido - O início.

Insight
Capítulo I - Dossiê

"Pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que nos não guia." (Fernando Pessoa)


Naquela altura, eu ainda não sabia o porquê de minha curiosidade. Era sufocante - eu tentara avisar meus pais sobre o risco que eu corria de morrer engasgada em questionamentos.
Estava imersa. Meus olhos acompanhavam as linhas de minhas visões, cada vez mais perturbadoras. Tentara, de qualquer fora entender a realidade de minhas perguntas, mesmo que nem eu acreditasse em minha sanidade. Os insights estavam muito frequentes - sempre me pegavam de surpresa, por mais que os desejasse. Vinham nos momentos mais oportunos, e eram o principal motivo de meu reconhecimento no Alvar Tiotte. Meu colégio já não cabia nos meus cadernos e toda aquela polêmica da "garota da luz" já estava me matando. O cansaço e o desgaste da idolatração indesejada ficavam cada vez mais nítidos em minhas olheiras. Pensava seriamente em parar de usar meus despertares em meu proveito. Surgia cada vez mais um sentimento de culpa em mim por não medir minha responsabilidade e fazer mal uso de meu dom. Não um mal uso que prejudica alguém. Na verdade, prejudica, mas a única pessoa que sai em desvantagem nisso tudo sou eu mesma. Esse estrelismo repugnante e essa posse sobre as notas do Tiotte, isso tudo não era meu, não era para mim. Era para o meu talento, para este segundo ser que reina em absoluta vaidade em algum lugar do meu sub-consciente. E eu sabia que estava abusando dele, desta criaturinha que me transformou em deusa, coisa que eu nunca fui.
Lembro que desde pequena eu tive esse tipo de... sorte. Tinha idéias de última hora - e por sorte nenhuma delas me matou. Minha mãe, Dona Nandy, era quem mais se orgulhava de "mim".  Dizia que era um dom que Deus tinha me dado, que tem pessoas especiais que vêm ao mundo para ajudar aos desorientados. Desorientada estava eu na minha própria cabeça. As coisas acontecem tão rápido quando se trata dos meus insights, que, na verdade, eu não consigo nem lembrar do que faço, o tormento me toma por inteiro.
Meus amigos são os que mais me motivam a crer em mim mesma. Sarah é o meu anjo da guarda, bem como Bethy, a amiga de vinte e poucos, Miguel, o ex-namoradinho de infância, e Lil. Lil era encantador. Somos amigos há uns cinco anos, e creio que para uma menina de 18 anos que se encontra na época de um rodízio incansável de amigos, isso é um bom tempo. E ele era delicado até o último pêlo do braço. Sorridente, entusiasmante, amigo pra chorar e bagunçar. E tinha uma bela forma - se precisar de alguém para organizar um acampamento, treinar grupos de gincana, chame o Lil, melhor que ele, só Estevão - mas isso é outra coisa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mas e esta ausência.

Peço que desculpem-me pela negligência que apresento nestes últimos dias vazios. Mas o caos deste mundo em decadência tem me sugado para uma rotina de desprazeres e agitações das quais não consigo nem posso fugir. O que me resta é esperar pelo fim desta centrifugação em minha vida que me separa cada vez mais do meu ser e do meu lar. Volto em breve para relatar a confusão desses dias e não volto sozinha, pois ainda vem comigo o começo de tudo, com meus personagens, com minhas utopias, e com tudo o que faz parte de mim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sobre a solidão.



No último post, comentei sobre a independência. Lembrando que minhas palavras não se referem somente à independência material, pelo contrário, refiro-me a independência espiritual, para mim tornada fundamental.

Enfim, este pobre conceito de independência remeteu-me também ao seu lado escuro, como todo tem: a solidão. Triste começo e fim dos viventes e sobreviventes neste mundo, é a sina que trazemos conosco ao nascer. Todos a têm, e apesar de sua banalidade, faz-se diferente em cada coração. No gosto, nos gestos, no jeito, no júbilo. Uma arte em comum, incomum, inegável e incondicional.
Indivisível, incompartilhável, ininteligível, infernal. Ah, que tristeza, que maldade do mundo este sentimento! O que demoro a ver é que, mesmo quando estou satisfeita ao lado dos que amo, que quero bem, ainda assim estou sozinha. Ainda assim, a solidão está presente. Mesmo rindo, amando, sendo amada, o negrume deste isolamento involuntário invade a alma quando penso no que sou e no que faço. Atriz da vida, em um palco desestruturado, deixo-me levar pela consciência de que se está só, mas o brilho da vida ainda brota em mim como as flores de um jardim que, mesmo poluído pelo mundo, continua na esperança de que surja alguém para regá-lo como se deve, florescendo e encantando, sobressaltando-se sobre qualquer nojo que haja entre estes.


"Tal com a Flor de Lótus cresce da escuridão do lodo para a superfície da água, abrindo sua flores somente após ter se erguido além as superfície, ficando imaculada de ambos, terra e água que a nutriram. Do mesmo modo a Mente, nascida do corpo humano, expande suas verdadeiras qualidades (pétalas) após ter se erguido dos fluídos turvos da paixão, ego e ignorância, e transformando o poder tenebroso da profundidade no puro Néctar Radiante da Consciência Iluminada."


Fica a letra da música "Esconderijo", de Ana Cañas, música que amo.

Procuro a solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão
Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Como a arte do seu jeito
E tudo faz sentido
Calma pra contar nos dedos
Beijo pra ficar aqui
Teto para desabar
Você para construir

domingo, 10 de outubro de 2010

Independência.

Ponto de equilíbrio entre a vida e a morte. Sigo na crença que independência é o grito de guerra dos viventes. Depositando o peso do corpo nos próprios pés, reconhecendo vossa identidade como real e única e compreendendo o mundo como parte de vós, e não o contrário. Em uma terra em que corações são dilacerados e mentes são corrompidas, os que se mantém na fé do triunfo próprio são os únicos que se salvam. São perseguidos e apedrejados, julgados, em muitos episódios condenados. Nem tanto sofrimento consegue encobrir o gozo proporcionado pela quebra das algemas da alma!
Um sonho pra sonhar sozinho, é a lição da escola da vida. É ensinada aos poucos, mas age como um insight: é o  chamado do coração clamante por liberdade. Já não é utopia, mas realidade viva que quando descoberta, gruda nas mãos e nos atos como pólos de um imã. E magnetiza a vida e os passos, que nunca mais os mesmos.
Nunca mais o mesmo corpo, nunca mais os mesmos pensamentos, expõe as dores e os amores, assume conduta e fortalece o futuro.
Eis que nascem em mim pilastras do sucesso e de mim mesma! Pois agora sou minha própria base e estrutura, tronco de meus feitos e dona de cada escolha. O caminha agora é meu, o rumo quem decide sou eu, não quero um alicerce, quero um acompanhante. Veio o meu tempo de glorificação, de abrir os olhos para a dádiva que sempre fui e nunca transpareci; o que todos já sabem, é hoje que venho ver. E trago agora a postura ereta, a mente serena, o coração transbordando amor próprio.

Onde tu estavas que só agora te achei, ó bela divindade? Já me cansava viver negando a parte bonita, a única parte de mim.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mulheradagem.


Complicadas, neuróticas, possessivas, obsecadas! Lindas, inteligentes, frágeis, delicadas, refinadas! Deus do Céu, como pode tantas qualidades em um sexo apenas? Ser mulher exige muita força e muita responsabilidade. Muita disciplina e auto-controle, muita paciência e cuidado. Até porque foi sobre as mulheres que caiu a lenda da loira burra, das motoristas avoadas e da barriga no fogão. Mas o que os hipócritas machistas esquecem é que são elas que trazem no ventre a maior dádiva do mundo, o tesouro mais sagrado existente: a vida. Claro que sem os homens isto não seria possível, mas aí é que está: homem e mulher se completam pelo simples fato de existir. Não é necessário um ter mais dinheiro ou mais fama para que o outro se renda aos seus encantos. Nos rendemos no momento em que nos identificamos.

Nossa vida é uma eterna provação, e nós, mulheres, tentamos a todo e qualquer instante provar ao mundo o que somos e a quê viemos. Espertas, domamos os sentimentos e as mentes alheias, mas o melhor de tudo é que não o fazemos por ganância, mas sim por instinto. Comovemos com nossa fragilidade e delicadeza, quase sempre proporcionais à força de luta que trazemos conosco onde quer que estejamos.
E se for pra aproveitar o tempo, sabemos muito bem. Temos voz e temos vez, somos mais donas de nós do que nunca, e hoje palavra de mulher é lei. "Com licença que estamos passando", é só o que falta dizer pra quem ainda se surpreende com o domínio feminino.
Malandragem pode sim, ser o nosso nome se assim quisermos. Olhem pra gente! Somos uma obra de arte, nosso corpo é maravilhoso, somos delineadas, sedutoras, verdadeiras feiticeiras disfarçadas. Disfarçadas ou não, até porque nem precisamos esconder algo que já está na cara. Somos do bem, somos do mal, somos tudo o que quisermos e tudo o que pudermos, afinal, mulher é assim: obediente no começo, chefona no fim.

"E hoje eu vou pegar o carro e dar uma volta, quem sabe volte, quem sabe vá."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Chapeleiro Maluco.

Ah, o Chapeleiro Maluco! Pelo que sei, pelo que vejo a insanidade se torna tão necessária e rotineira que quando é explicitada causa espanto. Surpresa por quê, se é esta que doma as mentes mais sãs do mundo? Se é esta que traz a vitalidade aos dias e às noites, é ela que nos proporciona nossos momentos mais íntimos, mais alucinantes e novelísticos, porque temer? Particularmente vejo como o melhor sentimento que poderíamos ter, como a melhor parte da vida. Através desta maluquice encontramos as respostas da vida, do mundo e do tempo. Por ela que somos o que somos. E é ela que ainda nos mantém vivos.
O medo de morrer, a psicose pela vida, a conduta neurótica e dissimulada que permite todas as condições necessárias ao viver. Até mesmo ao morrer.  Ainda matando, vejo tanto como um bem!
Não machuca (nem tanto) como o amor, não nos doma como o ódio. Mantém-se entre a felicidade e a doença, e somos nós, somente nós que decidimos para que lado pendê-la, se assim quisermos.
Enfrentar a vida como um palco, ser o artista do próprio espetáculo e não esperar pelo óbvio e sim pelo possível, missão de todos mas realizada por poucos.
É alimento da alma, é canto, é dança, é riso, é vida! Loucura saudável, nos tira os pés do chão e faz-nos flutuar na realidade. Enquanto o pessimismo toma o coração dos ansiosos e dos violentos, este desatino nos pulsa no mundo e cura as feridas da gente, às vezes com outras feridas, mas quem não vive sem? É a vontade de estancar o sangue da dor que impulsiona a nossa mente e os nossos pés.
Ah, queria eu poder saborear da loucura do Chapeleiro! Inteligência e perspicácia já se tornam fundamentais para um louco verdadeiro.