domingo, 31 de março de 2013

Amores ilusórios - separações sem despedida. 7

Peru de Natal.

Sinto as dores sempre antes do parto, e sofro por cada pontada sentida. Sofro por cada chute – os que dou e os que recebo. Um PhD em angústia. Um homem com coração de mulher, mas com a frieza masculina dos adeus.
Meu bem, devo lhe avisar que já sofro por nosso fim. Tenho chorado por dias e fico vagando nas mesmas dúvidas, e sempre caio nos mesmos becos escuros que trago dentro de mim. E por lá fico, estirado nos meios-fios, sentindo os arrepios do frio que a sua falta vai me fazer. Estou desenhando a cena, e agora percebo que vivo uma separação antes da despedida. Devo estar tentando me acostumar com a ideia.

1f4ade17efedad70210382ee0a6f521c_largeProcuro em mil e outras pessoas um alívio, alguém que faça com que eu não te sinta mais, tentando depositar em outrem um fardo de princesa ideal que nem você tem, procurando uma qualquer suficiente pra fazer a troca, pra eu poder dar logo a partida do adeus. Porque não suporto a ideia da solidão, dos pensamentos vazios que certamente voltarão pra você. E vou me enfiando por dentre as frases amigas e tentando encontrar um beco que seja iluminado e me deixe fugir de você. Fugir pra não voltar mais, levando comigo todas as culpas não pagas, todas as perguntas sem respostas e todas as metades que ficaram sem inteiros por causa dessa ânsia por não sofrer mais.
Ouvi uma história sobre “amores tatuagens”. Não sei se nosso fim nos dará espaço pra boas lembranças, mas nossas tatuagens com certeza são bonitas. Do tipo coloridas, que não desbotam tão fácil, e qualquer um que pudesse sentir como nós as amaria.
E quando ando por aí vejo o seu rosto triste me perseguindo e me lembrando da despedida que vamos adiando. Então não é esse o segredo dos grandes amores? As despedidas que encerram a programação na melhor parte do filme. Nosso ápice que nunca vai acontecer.
Que pena, meu amor, darmo-nos conta desse amor tão ilusório, tão frágil e praticamente enterrado. Antevejo a dor, as discussões e os momentos lúgubres que antecederão o fim. É triste endereçar nosso futuro ao fracasso. Já não depende mais só de você. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sobre a ânsia.


 O enjoo que me toma está se proliferando. A ânsia pela e da vida rodopia o mundo ao meu redor e acelera todas as bondades que ainda existem em meu universo particular. Fico absorta no que quase foi e estática no que poderia não ter sido. Nos meios nãos e sins é que eu entendo que não existem meios, mas com certeza existe loucura demais dentro de mim. Algum louco pra mergulhar junto comigo?

Convoco-vos a imergirem intensamente em si e repararem na quantidade de meios que temos tido. Meios adeus, meias estadas, meios horrores, meias respostas, meias perguntas, meios rancores, meios amores... Meios. Fico sem jeito frente a tantos meios de me enlouquecer que encontro. A insanidade é um vizinho intrometido que está sempre pedindo uma xícara de açúcar.

Latente. Esse refluxo de coisas podres fica sufocado, maquiado atrás de tanta juventude colorida, que de tão vaidosa anda quase cinza. Vago sozinha em mil e um lugares onde eu queria estar, cantando mil e uma músicas que ainda não inventaram e vivendo mil e um amores que nem conheci. Vou vivendo esse meu tudo, que não tem mil, mas tem uma amostra da felicidade que anseio. 

terça-feira, 5 de março de 2013

Mãos (des)lavadas.


                Como dói essa prisão. Essa ganância deslavada que amputa as mentes e os corações alheios. Péssimo viver desse jeito, sujeita a essa sujeirada. Em uma palavra? Sufocada. O ar se fez ausente e por isso mesmo não se fez. Estou prestes a desabar, desequilibrada sem querer. Uma louca doida pra enlouquecer de vez. Uma sã que está tão só que chega a dar dó a falta de música na vida dessa menininha. Uma indefesa deferindo de si própria. A sua aura é a mais negra possível. Está entenebrecida.


                Que vida estranha a que ela escolheu. Ontem tão colorida, hoje tão desbotada. E fica se remoendo por dentro feito triturador. Tritura-dor. Dores quebrantas são o forte dela, afinal ela é toda fragmentada. Seu orgulho faz com que seus temores se alastrem e tomem a proporção dos fantasmas. E aí, o que vão pensar disso tudo? A minha resposta começa com F.
                Sonho com o dia das decisões, essa linha tênue entre a convicção e o engano. Enganei-me, talvez. Sou um pássaro de asa quebrada implorando por um pouso feliz, longe do ninho, longe de mim. Concentrada no pavor dos problemas, vou pousando cada dia mais devagar.