sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sobre luzes de faróis e agulhas.

Acho que tem uma fase na vida da gente que os amigos são nossos faróis. Iluminam o tantinho do caminho que nos cabe ver; mais que esse tantinho é sacanagem com o futuro. Ele acaba perdendo o emprego numa dessas, então, vamos vendo o necessário pra dar os primeiros, segundos, terceiros passos. De mãos dadas, nunca sozinhos, porque enquanto tem uma luz, temos uma chance. Por falar nisso, não me lembro de ter tido momentos completamente escuros. E sem querer bancar a sabidona, acho que você também não vai lembrar.
No caminho, a gente vai andando e às vezes perambulando e tentando ser mais do que consegue, ver mais do que pode, tropeçar menos do que deve. A gente cai e chora e dói muito, e ninguém realmente entende. Mas alguém vem e nos levanta, e a gente olha pra trás e a pedra parece ter diminuído. Andamos mais um pouco e, como num insight, entendemos que era só uma pedrinha. E aí nem nós mesmos entendemos porque tropeçamos. Só o que se sabe é que sempre haverá uma pedra maior que, na verdade, era pequena também, mas não conseguimos ver com tanta clareza nesses momentos de queda. É como se nos anestesiassem com dor - uma longa e gigantesca agulhada, vinda de todos os cantos, nos suspendendo em um coração apertado. Mas veja só, existem mãos que se dispõe a retirar as agulhas, a dosar a medicação certa, e pronto. Passou. Está passando. Ou vai passar.
Mas eu acho, no fim de tudo, que nossos amigos-faróis-enfermeiros são, na verdade, os simples. Pelo menos, enquanto escrevo, tenho três faróis em pensamento. Calculando bem, remexendo e revirando, entendi que eles conseguem mesmo iluminar o tantinho do caminho e levantar a gente e retirar as agulhas porque é simples como eles. Porque, se a gente estiver com o rosto cheio de poeira por ter chorado e ficado no chão, eles não ligam. Eles simplesmente vêm e te puxam, e dane-se sua sujeira. Ou nem tanto "dane-se a sua sujeira", porque eles vão te levar no colo, dar um banho e elogiar seu perfume, mesmo que seja só isso que tenham dito desde que te levantaram. Eles não precisam de discursos, nem textos, nem sacadas, nem cultura, nem músicas-tema, nem nada que envolva uma foto para mostrar pros outros. Eles só precisam que tire seus adereços. Eles só querem ser simples, sinceros, limpos, justos com você. Eles querem ouvir aquela música sem serem julgados, e querem ouvir as suas só pelo prazer de te ver cantando. Eles querem discutir sobre coisas e medos que nunca vão conseguir contar pro Grande Grupo, porque o Grande Grupo é cruel e esmagador. Eles querem que você cresça, mesmo que você não entenda que isso é necessário. Eles querem que você queira por eles algumas vezes. E, quando eles sabem que você não está em condições de querer, eles estão ali para te ajudar a não bagunçar mais as coisas. Tem tantas Coisas Tão Maiores que o Resto... Mas o Resto nos consome quase por inteiro. O Resto nos faz rudes e mal educados. O Resto nos faz cegos, nos faz gananciosos e preguiçosos. Mas as Coisas Tão Maiores enchem o coração e a sala como o Resto nunca vai conseguir fazer. As Coisas Tão Maiores, que são, na maior parte do tempo, as "coisinhas" só fazem sentido com nossos faróis. Já dizia um príncipe bem pequeno: "O essencial é invisível aos olhos."