terça-feira, 12 de julho de 2011

Deturpados.

Daria todas as estrelas do céu, se possível, para que eles não sofressem. Distrairia-lhes para que não vissem, brincaríamos a tarde toda para que não sentissem. Eles são tão pequenos para atrocidades tão grandes!
Estava a pensar um dia no meu cantinho. Lembrava de minhas brincadeiras de infância, de meus sonhos pueris, de meu olhar ingênuo. Do balanço que o vento tinha, das bagunças com meus vizinhos, dos cartõezinhos pro meu pai... Desenhos animados, fitas da Xuxa, pular corda na rua, os bebezões... No momento em que sorri, parei. Imaginei como seriam os pensamentos das crianças que não têm as suas bonecas, o seu lar aconchegante, a sua caminha com edredom cor-de-rosa, o edredom que eu tanto adorava. Fiquei tentando descobrir do que elas se lembrariam, o que trariam consigo a respeito de sua infância. Drogas? Baixaria na televisão? Baixaria em casa? Vergonha? Vingança?
Estremeci. Crianças que não são mais crianças. Pensamentos doentes, uma fase ultrapassada, que passa correndo sem nem dar um adeus. Imagens invasivas demais para cabeças de sete ou oito anos absorverem.
Pobreza-e-desigualdade-social_largeAcho que posso dizer que senti dor. Dor e ao mesmo tempo uma tremenda vontade de abraçar todos esses pequeninos, trazê-los amor em lotes, mostrá-los o que a infância deve ser. Dilacera-me saber que temos ainda tantos pequenos à mercê da tal "qualquer educação, qualquer comida, qualquer roupa que tape um pouco". Pessoinhas cheias de sonhos, ingenuidade e primordialmente amor. Ao que me parece, já está mais do que na hora de sabermos que amor não se dá, se conquista. Não dá pra esperar projeções puras de quer recebe injeções dessa lama social todos os dias. 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nevrino.

A lã pesada que envolve os dias só faz escurescer - é a lã ou o céu que está naturalmente cinzento? Mais uma vez, o vento glacial cortante como navalha-não-tão-má levou os pensamentos para longe.
Congelando os dedos e a ponta do nariz, jogando-nos roupas e couros no colo, enfeitando os gramados com a sua branquidão, lá vem ele, e quando vemos, já está aqui.
É tempo dos abraços, dos beijos quentes, do casulo que vive conosco, mas que não podemos deixá-lo à mostra. Esses tempos com cheiro de gelo despertam cada vez mais a vontade do hermético, dos livros, do calor do chocolate quente. É a hora da calmaria - nosso momento de cama quente e coração aquecido.
Aquecido. Coração aquecido. Será? Alguns ainda procuram pelo seu cobertor, mas há tanto o que admirar nesse inverno! É estação triste, eu sei, mas nem por isso perde sua magia. Linda, elegante, completamente exuberante e graciosa, convida-nos aos filmes românticos, ao clima francês melancólico, ao amor que esquenta, mas sem pegar fogo - um calor discreto, que quase não faz barulho, mas ainda assim, faz crepitar o coração. Desmancha o gelo do ermo que se criou, e esses cinzas, pretos, beges e marrons só se fazem mais belos, mais mortos, talvez. No entanto, sempre convidativos.
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A longevidade desse frio é o que faz amadurecer os ramos frondosos coloridos. Gelado, sim, gelado demais! Mas toda a alma tem seu inverno, todo som tem seu espaço mudo, se assim não fora nada florescia. A brisa gélida de julho só faz doer mais os anagramas que a vida faz com nossos pensamentos, movimentos pulsantes, mas é assim que se aprende.
Olhando para seu próprio casulo. Olhando, olhando... No tempo do sol ou do calor é que não se faz isso. É a hora que chega para relermos nossos próprios scripts, refazermos nosso texto, focarmos no nosso calor próprio, amor próprio, chega de auscultar. Sem escória dos outros, sem queimaduras. Hoje é o dia de celebrar a chuva, que leva os vestígios de maldade apenas com sua beleza. Hoje é dia de namorar a lareira, hibernar em si mesmo, esquentar o coração com as próprias mãos.

O desabrochar de uma vontade.

Estava doendo - meus dedos, estavam coçando, precisavam da droga - precisavam da parte mais imponente de mim. Necessitava verbalizar, era urgente. Gritava em mim a ânsia de expulsar os fundos falsos revirados. É assim comigo, sempre foi. Pra enxergar o que ainda está por vir, eu preciso me libertar. Os tapumes estavam me cegando, eu queria sair, mas a urgência sempre ia se adiando. Agora basta. Estou aqui e pronto. Matando a fome e a sede.
São estas palavras, estes momentos que me declaram humana. Vivo disso, desse meu falar pro mundo, dessa vontade incessante de escrever - desta saudade, longe e perto, florescendo todos os dias dentro de mim.
E eu já falei de dores, de amores, de tempos bons e tempos mornos. Já falei dos dias de janeiro, das danças de fevereiro, das chuvas de setembro, das flores e das borboletas. Um emaranhado de "eus", todos com sua devida compostura, assegurando minha identidade em cada traço e cada verso.
Alguém escreveu - e como se não bastasse, eu li - e quase definiu a sua vontade. Isso foi curioso, porque a tentativa é bonita, mas é mais ainda quando bem-sucedida. E eu acreditei, porque isso refletiu em alguma coisa parecida dentro da minha trilha criptografada. Deixo-lhes com um pedaço de "Quero escrever...", texto de autoria de Bernardo Coelho.


Quero escrever...
"(...)
Quero escrever
Ser voz, gritar
Meu peito abrir, te fazer pensar
Deixar de ser apenas mais um grão de um mar
Gravar palavras que perdurem mesmo depois que eu passar.
E que cheguem onde eu menos consigo imaginar
No seu coração, na sua alma, no seu ser

Quero escrever."

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The right to be wrong.

Acho que ouvi algum murmúrio. Parecia algo como: "isso ai denovo...".
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Não é uma boa frase. Certo. Errado. O nosso certo, será que ele equivale? Provavelmente em alguns pontos sim, alguns pontos fáceis de atingir, mais ainda de resolver. Alguns quase banais. Mas e quando não bate? E quando meu julgamento te torna o condenado, e se você é quem está na linha? Aí eu sou a criminosa? Mas eu... argh!
Provavelmente, a vida é um padrão. Eu sei que não devo matar, nem roubar, nem fumar em lugares fechados, de preferência não fumar, porque isso destruiria meus alvéolos pulmonares, e eu poderia morrer. Mas a verdade é que tudo não passa do modelo. Cabe a quem achar mais conveniente e não estiver disposto a pagar pelas consequências da transgressão, acredito. Agora, caminho certo? Você quer um caminho certo? O caminho certo é o seu, oras. Você parte, você luta, você chega. E na maioria das vezes, não são as pessoas que te dão pistas. É o momento. Tá legal, as pessoas participam dos momentos. De alguns. Já resolvi coisas deitada na minha cama, sozinha no quarto. Já percebi só depois que falei - e no entanto percebi sozinha.
E não gosto de caracterizar nada - não, não posso, não consigo te nomear, rotular ou explicar. Parei pra pensar em quem sou eu e não obtive grandes resultados. Pedir para que eu dê qualquer tipo de ultimato sobre algo ou alguém já é loucura - uma menina transparente aos seus próprios olhos, sem definição ou frase autoexplicativa de algum filme melodramático hollywoodiano. Mal seguro minhas próprias arestas sem suporte, como vou decretar qualquer ruído que seja?!? Vou repetir: é insanidade.
E também devo detestar esse tal de certo e errado, esse "bem ou mal" disfarçado, pela simples possibilidade de fazer tudo errado, tudo estragado, e ainda ter como consequência uma matilha atrás de mim impondo a correção, o indicador beirando a ponta do nariz alheio, as repreensões me ensurdecendo. Por favor, nada de inflexões. Deleto quem me condena, tenho horror a reações sob pressão. Isso não quer dizer que não dêem certo comigo. Ainda assim, garanto a você que sou bem melhor no caminho meio torto pelo qual sigo, e estou tentando alinhar.

sábado, 2 de julho de 2011

Explosão de estrelas.

É engraçado, porque as coisas contradizem o tempo, o tempo depõe contra as coisas, e essa enrolação nunca termina. Mas aí, quando elas resolvem se acertar, imobilizam. Particularmente, não sei lidar com o tempo. Ele tem me castigado de tal forma que me espanta. Aquelas lembranças, aqueles momentos que ele me proporcionou já foram o motivo da minha prisão perpétua, que já foi registrada. É difícil seguir inconsciente.
E tenho descoberto dentro de mim motivos que não conhecia. Tem coisas que são impagáveis, tem momentos que não vão mais voltar, tem pessoas que foram porque não queriam ficar. Mas dói mais pelo que ainda vai vir, mas que ironia, porque o que vai vir será justamente o fim, a partida, a separação. Como isso cansa...
Também não sei porque tenho ficado tão perplexa, tão instável. Risos e lágrimas fluem de mim com facilidade, mas sei bem qual delas vai prevalecer no final. Todo o estrelismo que a vida apresenta simplesmente cega e explode em meu peito de maneira que preferiria ser cega a ver todo este espetáculo terminar.
Ainda que eu tente, nada é do jeito que eu quis. Mas as coisas vão se encaixando, vou superando, esticando o tempo, talvez, remediando, mas é necessário entender o fim dos ciclos. O que tenho certeza é que faria tudo de novo, e se isso for o meu melhor, seria capaz de fazê-lo cem vezes a mais. É a minha vida, só quero viver enquanto estou viva.