domingo, 28 de outubro de 2012

Tique-taque.

O relógio condena e mata a cada segundo. Talvez eu já tenha dito isso uma vez. Uma vez... "Era uma vez...". Assim começa a felicidade. Será? (In)Felicidade. Dentro da euforia, dentro do amargo adoçado com entorpecentes lícitos. Tic, tac, tic, tac...
Essa espera condenada, essa prisão perpétua. Uma graça. um mimo da vida. Vamos voltar os relógios! Vamos maquiar as rugas! Correr, jogar bola de gude. Não. Não vamos.

530566_378830588857764_363861445_n_largeComo sempre, a demora é pesada quando se está parado. Mas quando corremos, quem corre mais? O tempo sempre foi o melhor maratonista. Mesmo quando tudo parece um eterno pesar e nossa realidade almejada não passa de fumaça, o Cronos consegue ultrapassar o que nem esperávamos estar andando. Nós mesmos, mastigados pelo relógios. Triturados que somos! Não voltamos pra abrir os olhos. Não há tempo para conversas, devaneios, ficções. O cenário é corrosivo demais para querermos apreciá-lo. Onde estão as quimeras? Trucidadas.
O mesmo que abre as cortinas para as trevas é quem põe o salto no pé da menina que dança. A inocência pulverizada é o motivo que amadurece a astúcia. Saber lidar com esse mostro-mago é a lição que levamos todo dia para casa, incompleta. Porque nada mais completo do que a vontade no peito de decifrar esse tique-taque incessante. Que seja incompleto nosso desassossego até o relógio parar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mínima Menina.

(Uma percepção que já estava engavetada há tempos.)


O amor é uma droga, é viciante, e enlouquecedor, e ensurdecedor, e mudo, e amordaçador e tudo o mais que cala, que mede, que corrói e que mata.
Mata pela mão da vida. Mata pela própria mão.

Mínima Menina - Dose acelerada de conflitos, sonhos, ataques e romances.

Prólogo

Eu sou uma menina.
Comecei a narrar essa história na segunda pessoa.
Apaguei tudo. Deixei que eu fosse eu mesma. Pelos meus próprios olhos, pelos meus próprios passos.

Eu sou uma menina. Ainda sou.

Sempre serei uma menina, eu acho. Ou talvez até casar, ou até ter meus filhos.

É que já sou tão menina há tanto tempo, que quando me tornar mulher, vai ser estranho.
Ao menos, parece-me que terei mais força própria. Ou então, é só a palavra que soa mais consistente, mesmo.
Lembro-me de quando eu estava em alguma rede social, e alguém postava algo mais ou menos assim:
"Nossa, como tudo está péssimo. Mas eu sei que vou sair dessa."
E eu sempre retrucava essas bobagens com alguma indeireta em um próximo comentário.
E então eu via que eu também nao sabia de nada. O quão pequena eu ainda era, ainda sou.E que essas gafes que eu jurava tão grandes, se eu ainda não houvesse cometido, um dia cometeria. Ou, quem sabe, são equívocos diferentes, camuflados, intimamente maquiados.
A vida é grande e complexa demais pra gente entender. E eu sou mínima. Mínima Menina.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 4


Enferrujado.

Eu nunca consegui falar. Nem voltar. É do que estamos falando, não é? Nossa separação... Nossa. Minha. Você não entende. Nunca vai entender. Mas eu preciso tentar, nem que seja só dessa vez.
Talvez a coisa mais dura, mais difícil e letal que eu tenha feito na minha vida e ainda assim ficar vivo foi te deixar pra trás. Minhas palavras doem em mim. Sinto-me sujo com nossa verdade. Desculpe, desculpe.
Eu juro, eu vou tentar mudar... Eu queria que você me ouvisse! Queria poder gritar meu amor por ti. Mas não há como. Não posso dizer “não havia como”. Reconheço que minha decisão foi consciente, e nem posso imputar em minha covardia uma vergonha que só ganhei depois de velho. A velhice, meu filho, me corroeu, corroeu tudo o que um coração gelado e vazio podia sonhar em ter. Deixar meu primogênito foi a única coisa que meu corpo falho conseguiu fazer, porque por dentro... Eu era cacos. Frangalhos. Não havia nada naquele momento que pudesse recuperar minha felicidade. A sua mãe... A mulher mais linda e mais forte que eu já conheci. Se fosse eu, não sei como agiria. Sentia por ela um amor impetuoso, um sentimento tão forte que tirou de mim todos os eixos que eu pude ter um dia. Como eu podia deixar de viver um amor como esse? Meu querido, perdoe-me... Eu sei, nunca estive aí pra entender a dor de vocês, mas acredite, a única coisa boa que eu trouxe durante essa longa caminhada foi o sorriso da tua madre e a convicção desse amor perpetuado. Perdoa-me pelo egoísmo, perdoa-me! Mas tua vida pra mim é um mar de alegrias, e queria eu que tu entendesses minha moléstia! Hoje volto, e digo volto assumindo que um dia parti... Esse sangue que hoje tu deves estar amaldiçoando foi o mesmo que me fez vos deixar sem rumo um dia. Esses laços que forçaram-me a deixar para trás o único motivo por qual viver são os mais cruéis. O que tu sofres hoje, eu sofri em vida. Sei que nada justifica meu ato. Mas entenda, hoje eu clamo que me perdoes, filho! 
Meu único pedido é que entendas que meu adeus calado gritava em meu peito que eu voltasse para os vossos braços. Os braços mais felizes da minha vida. Se eu pudesse tirar de mim todo o fardo da herança, lançaria-o ao vento para que nada mais o trouxesse.  Por isso, peço teu perdão. Porque pra mim, não há dor maior do que saber que a minha honra criou-se enferrujada no coração do meu menino de ouro.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Magistral.

Essa nostalgia... Saudade é um sentimento um tanto peculiar. Porque é como se quiséssemos ser o que éramos com a maturidade ou simplesmente com a máscara que faz parte de nós hoje. Acho um tanto místico. Mítico, talvez. Como uma assistia, mas com fome. A carência do que alimentava nossa alma... Como alimentá-la agora? Se não existem mais fontes... Tudo seria uma grande farsa. Essa vontade de voltar no tempo, rebobinar os bons momentos mergulhando em músicas e retratos que ainda relembram o que ficou enterrado só pioram as chagas... Sim, chagas. Doenças, machucados no peito. Não conheço um remédio para essa tal melancolia. Ou talvez conheça... Parece-me que se chama "eu". 
Quanta coisa se vive e se aprende! O mundo inteiro nos levando para frente e os bobos nadando contra a maré tentando voltar. E se a gente se afoga? Se uma dessas ondas nos devorar por um sentimento tão frívolo? Sentimento frívolo... Praticamente uma redundância. Devemos concordar que nossa humanidade é tão errônea que uma simples expressão como "sentimento frívolo" causa gargalhadas por dentro.
Só por dentro.
Por fora a máscara prematura da seriedade deve estar imaculável.
Como dói prestigiar o presente! Viver uma incógnita e estar feliz. Talvez por isso essa tristeza apelidada saudade doa tanto. Já estamos no futuro quando viajamos para lá. O novo ângulo torna-se tão confortável a ponto de querermos voltar ao que éramos agindo da forma como somos hoje. Tremenda piada!
É uma bela advertência do céu, e quando falo céu, não brinco: estou onde estou, e tudo mais está para trás, seria um tremendo fastio viver com quem eu já não aprenderia nada.
Obrigada, mestres. Nossa caminhada foi primorosa, quase magistral.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 3


Garota do Campus.

Lembro como se fosse hoje. Você sempre ficava na frente da biblioteca, nos bancos de concreto do lado de fora do prédio, lendo seus livros que sempre protegia com a capa que comprara na papelaria em frente à faculdade. Sempre achei que você era uma das meninas mais bonitas do campus; estava certo, no baile de formatura da turma de 2006 de Direito, você foi eleita uma das mais bonitas pelos meus amigos, e também por outros rapazes do baile. Não havia uma conexão que nos mantivesse unidos; eram sempre os assuntos corriqueiros, quando você pedia pra reservar um livro ou pra devolver outro, ou quando pegávamos o ônibus juntos. Admiro até hoje suas leituras. Cada livro que você devolvia eu reservava para ler depois. Sempre com finais surpreendentes... Policiais, românticos, todos tão encantadores quanto você. Seu cabelo ruivo ondulado moldando seus ombros fazia-me flutuar. E seu sorriso, o que dizer do seu sorriso... Rosado e suave, como uma brisa leve que traz calmaria. Eu te achava linda – e ainda hoje acho, pelo menos até a semana passada, quando te avistei de longe na relojoaria e percebi que sua beleza é tão singular que sou apaixonado até hoje. Sempre cuidei tão bem de você em mim... Não sei porque me olhava daquele jeito, com olhos fugitivos, mas é o olhar mais precioso do qual me recordo. Você se formou um ano antes de mim, não foi fácil trabalhar na biblioteca todos os dias depois de você. Não foi fácil lembrar de nossos encontrões na saída do campus, das poucas conversas antes do ônibus chegar, e das gargalhadas que compartilhamos aquele dia. O dia que o meu mundo parou ao seu redor.
Sua formatura foi maravilhosa, eu estava lá, e você sorriu pra mim de longe. Um sorriso discreto, mas um sorriso seu. Nenhum abraço e nenhuma despedida. E aquele vestido de noiva caiu muito bem com seus cabelos ruivos. Parecia envolta de neve, uma boneca de porcelana brincando de casinha. Ele tem muita sorte de ter conhecido a garota do campus.

Obrigada por me dar a honra da sua presença nos bancos da minha faculdade.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 2


O dia em que o tempero acabou.

Era mais um daqueles dias frios, aqueles dias nublados como quando brigávamos. E ironicamente, eu ainda brigava com você nos meus pensamentos. Um amor muito imperfeito, várias páginas que eu queria rasgar de nós, mas sem elas não haveria a parte em que o sol desmancha as nuvens e te traz de volta. Só que eu não sabia.
Entrei no carro depressa, como se eu pudesse acelerar as coisas e me iludindo com a esperança de que a velocidade de meus atos me distraísse de você. Boba, mesmo depois de tanto tempo, era difícil admitir que não conseguia deixar de ver seu nome a cada milésimo que o relógio marcava. A correria perturbava tanto que a chave do carro estranhou e resolveu não fazer seu papel. Talvez estivesse tentando me acalmar. Não, avisar ela não poderia – não havia como.
Confesso que até o supermercado o caminho pareceu meio torto. Meus sentidos estavam confusos, então não conseguia fazer a diferença entre a garoa de dez minutos atrás e a chuva torrencial que acabara de cair. Não fazia diferença, eu precisava lavar minha angústia, e estar limpa para logo mais. Entrei no supermercado e logo vi as gôndolas com temperos – lembrei na hora do seu macarrão incomparável. Minha ainda mãe comenta sobre o tempero que você usava.
Peguei um vidro de pepinos para comermos de noite, com petiscos. Depois das pazes.
Conferi o carrinho: pão, refrigerante, arroz, massa, peito de frango, o vidro de pepinos, nossa caixa de bombons e o seu tempero. Era isso. Agora eu precisava ter coragem. Sabe como é difícil pra mim me desculpar... Mas eu sei, precisava fazer isso uma única vez que fosse. Você já parecia cansado de ter que costurar nossos corações todas as vezes que os rasgávamos em frangalhos. Mas você sempre foi um bom costureiro.
E então, eu cheguei em casa. Nosso quarto estava tão calmo... Branco, limpo como em um dia de paz. A paz que seu travesseiro sentiria dali pra frente... A paz que nunca mais eu teria, o meu porto-seguro desabou. O celular tocou e eu não queria que repetissem mais nada. Eu só queria que fosse um trote, uma brincadeira inútil. Mas você nunca foi de brincadeiras tão cruéis. Entrei no carro denovo, dessa vez, o limpa-parabrisa estava sendo insuficiente. Comecei a sentir a lagoa que crescia ao meu redor – meus olhos pingavam dor, gotas grossas de amargura. Cadê o seu tempero agora?
Fui correndo, só pra dar tempo de pedir desculpas. Acho que você ouviu. Espero que tenha ouvido. Foi horrível te ver indo embora, levando o sol que desmancharia as nuvens, o sol que desmancharia as nuvens... Como pode? Mesmo sem querer saber o caminho do mercado, conseguia guiar meu carro, conseguia guiar meu carro! Porque você não resistiu, porque? A placa do carro daquele homem vai ser sempre a marca da minha solidão. Por favor, desculpe-me, por favor... Eu sempre amei o seu macarrão, e nunca vou conhecer alguém que joga videogame tão bem quanto você, mesmo que eu jogue melhor. Eu te amo, e ainda sinto o tempero do seu beijo a cada manhã que você não volta.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 1


Estreando nossa nova série. Vida longa aos amores, mesmo que ilusórios.




De: Julieta
Para: Romeu

Estou longe, muito longe de você. Estamos separados porque somos separados. Eu nunca serei sua, você nunca será meu, o meu Romeu. Amor bonito, mas nunca real. Eu te amo e sei que não posso.
Somos de faz-de-conta. Uma angústia imensa toma meus sentidos quando lembro do que você me é. Não será fácil com você em todos os meus pensamentos... Não, não será nada fácil.
O que? Eu estou te escrevendo essa carta? Mas como?!? Nós não podemos nos comunicar, nós... Estamos tão distantes! Somos pólos. Pólos que se repelem. Uma grande, muito grande contradição. E mesmo assim, eu te amo.
Com certeza a morte é o caminho mais fácil pra nós dois. Mas sabe, já vi outro casal “Romeu e Julieta” que levou exatamente esse rumo.  Não achei elegante, tampouco corajoso. Prefiro você vivo em mim, mesmo que doa como uma ferida que sangra eternamente. Não vou negar, você é uma mazela gigante no meu peito. Mas sou meio mazoquista, e gosto do jeito como você me dói.
Crueldade da vida me pôr na sua frente para sabê-lo mas nunca ter você aqui. Só me basta saber se você também sente isso, essa coisa brutal e linda que floresce no coração dos apaixonados. Você também sente tudo isso, Romeu? Gostaria que sim. Porque, pelo menos, pareceria que esse amor vale a pena. E também porque amor platônico eu posso sentir por qualquer galã de novela. Se você não me amar, então isso tudo que eu te falei não vale nada. Por isso vou ser bem egoísta e te dizer: Sim, eu quero que você sinta vontade de se matar só por me amar e isso tudo ser um sonho impossível.
Bom, agora você já sabe. Desculpe-me se esses escritos estão frios. Ultimamente tenho medo de falar com você porque a qualquer momento posso explodir se eu não contiver adequadamente meus sentimentos. Pelo menos agora minha vida tem sentido. Eu não vou me matar. E nem você pense nisso. Vamos viver sabendo que nosso amor só existirá enquanto nosso corações baterem. Eu vou te encontrar todos os dias nos meus sonhos. Meu amor.
Da sua e sempre sua,

Julieta.

(Da série "Amores ilusórios - separações sem despedida. Episódio: "Romeu e Julieta.")

domingo, 14 de outubro de 2012

Radioactive.

Muita camuflagem, muitos camuflados. Inocentes.
A música diz: "Welcome to the new age, to the new age."
E todos aplaudem o grande espetáculo atômico! Sujos de poeira e química, intoxicados com o sistema fétido. Todos nós.
Como se vivêssemos no meio do verde cru e limpo, concordamos com todo o lixo jogado dentro de nossos quintais pensantes. E ficamos aí, aceitando sujeira, vomitando horror e tóxicos, reproduzindo nas roupas e nas revoltas nada mais que nossa própria morte. Radioativos, aí estão vocês! Disfarçados causando nosso homicídio. Os bobos da corte não se dão conta de seu pseudo-suicídio. Tolos que somos.
Parecemos até vendados. Cegos gritando por liberdade. Aliás, nem sei se ainda gritam. Ou talvez nossos gritos façam parte do espetáculo que eles adoram ver, os bobos urrando.
Toxinas na poeira dos sapatos, nos comerciais, na politicagem, na esquina. Qualquer esquina.
Ninguém é outdoor de ninguém. Alguém me disse que o controle dessa câmara pode ser desativado...
E então acabou! Coloquem as máscaras! Fechem o gás!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A felicidade é para raros.

Foi com um céu estrelado e muitos risos que eu preenchi aquele dia que poderia ter sido um desastre, um completo desastre. As estrelas pareciam faróis me dando um rumo - estava desnorteada, com o coração aflito e orgulhoso. Mas aquelas estrelas no céu e aquelas outras aqui, pertinho de mim... A luz que resplandecia de mim foi o que fermentou minha felicidade instantânea.
São poucos os que entendem o que significa a alegria. Deitada na grama buscando figuras nas nuvens, entendi que tenho um universo tão meu que fica quase difícil enxergá-lo. Lindo. As estrelas me apontaram o caminho. Minhas gargalhadas, e minhas lágrimas sufocadas durante a noite foram meus melhores antídotos. O prazer da companhia deles. Os inseparáveis, os irmãos pra toda e qualquer hora. O sábado contente e bobo, inocente como só aquele dia foi. Destemida de preconceitos, joguei-me nas brincadeiras e nas tagarelices, e lá se foi a minha tristeza, coitada. Suicidou-se.
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Tantas constelações no céu e eu com a minha aqui na Terra. Astros, astros divinos. Eternizaria aquele dia como um dos mais valiosos. E então eu me dou por conta da felicidade que me cerca: o lençol verde que me cobre quando deito na grama para olhar o céu, a sombra das árvores em uma tarde com um violão, as flores no chão anunciando a querida PrimaVera. A ilustração da paz é muitas vezes apagada pelo borrão da infelicidade. Limpemos nossos cenários, que a raridade da alegria inquiete cada segundo que já passou
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