quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amores ilusórios - separações sem despedida. 4


Enferrujado.

Eu nunca consegui falar. Nem voltar. É do que estamos falando, não é? Nossa separação... Nossa. Minha. Você não entende. Nunca vai entender. Mas eu preciso tentar, nem que seja só dessa vez.
Talvez a coisa mais dura, mais difícil e letal que eu tenha feito na minha vida e ainda assim ficar vivo foi te deixar pra trás. Minhas palavras doem em mim. Sinto-me sujo com nossa verdade. Desculpe, desculpe.
Eu juro, eu vou tentar mudar... Eu queria que você me ouvisse! Queria poder gritar meu amor por ti. Mas não há como. Não posso dizer “não havia como”. Reconheço que minha decisão foi consciente, e nem posso imputar em minha covardia uma vergonha que só ganhei depois de velho. A velhice, meu filho, me corroeu, corroeu tudo o que um coração gelado e vazio podia sonhar em ter. Deixar meu primogênito foi a única coisa que meu corpo falho conseguiu fazer, porque por dentro... Eu era cacos. Frangalhos. Não havia nada naquele momento que pudesse recuperar minha felicidade. A sua mãe... A mulher mais linda e mais forte que eu já conheci. Se fosse eu, não sei como agiria. Sentia por ela um amor impetuoso, um sentimento tão forte que tirou de mim todos os eixos que eu pude ter um dia. Como eu podia deixar de viver um amor como esse? Meu querido, perdoe-me... Eu sei, nunca estive aí pra entender a dor de vocês, mas acredite, a única coisa boa que eu trouxe durante essa longa caminhada foi o sorriso da tua madre e a convicção desse amor perpetuado. Perdoa-me pelo egoísmo, perdoa-me! Mas tua vida pra mim é um mar de alegrias, e queria eu que tu entendesses minha moléstia! Hoje volto, e digo volto assumindo que um dia parti... Esse sangue que hoje tu deves estar amaldiçoando foi o mesmo que me fez vos deixar sem rumo um dia. Esses laços que forçaram-me a deixar para trás o único motivo por qual viver são os mais cruéis. O que tu sofres hoje, eu sofri em vida. Sei que nada justifica meu ato. Mas entenda, hoje eu clamo que me perdoes, filho! 
Meu único pedido é que entendas que meu adeus calado gritava em meu peito que eu voltasse para os vossos braços. Os braços mais felizes da minha vida. Se eu pudesse tirar de mim todo o fardo da herança, lançaria-o ao vento para que nada mais o trouxesse.  Por isso, peço teu perdão. Porque pra mim, não há dor maior do que saber que a minha honra criou-se enferrujada no coração do meu menino de ouro.

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