segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

As batidas do relógio-coração.

Amanhã é um longo dia. Até agora indecifrável e inimaginável. Distante, doente, inconstante, influente... O amanhã é uma surpresa que um dia vai falhar a rotina. É uma certeza que em um piscar de olhos vai perder o gosto de vida que um dia teve. O amanhã? Ele praticamente não existe.
Todo o momento que passa é blindado - ele passou, ele está seguro. Certamente existiu, mas nunca mais voltará. Fica talvez na memória desbotada de nossas cabeças relapsas que esqueceram do almoço da semana passada. O passado, coitado, tão ignorado, mas muitas vezes doloroso e um tanto nostálgico. O que se foi pelo moinho da vida machuca muito mais do que a própria realidade muitas vezes. A lembrança do passado inquieta o presente, ansioso roendo as unhas a esperar os resultados. Mas e o presente? Tão rápido, mal podemos sentir seu balançar. Ofegantes, tentamos alcançá-lo, mas é demasiado agitado, e suas tribulações só nos fazem sacudir de um lado a outro, à espera da calmaria no futuro, e do entendimento quando tudo passar... Quando já for passado.


É como se todos fossem um só. Sim, todos são um só. Um ser. Malévolo, bondoso, não sei. Um redemoinho que nem mesmo ele deve se entender - tempo que nos é roubado, e na hora do repouso, nem cientes estaremos do que foi que aconteceu. Um vislumbre - do ventre ao pó, da carne à terra, da vida à morte. Que breve passagem essa nossa.
Mas se um dia, no ápice de meus sonhos, por algum motivo me deparar com esta figura que disseram para chamar de Tempo, a mão eu lhe daria a fim de que me concedesse uma última dança.