segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo[s] de um livro esquecido - O início.

Insight
Capítulo I - Dossiê

"Pode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que nos não guia." (Fernando Pessoa)


Naquela altura, eu ainda não sabia o porquê de minha curiosidade. Era sufocante - eu tentara avisar meus pais sobre o risco que eu corria de morrer engasgada em questionamentos.
Estava imersa. Meus olhos acompanhavam as linhas de minhas visões, cada vez mais perturbadoras. Tentara, de qualquer fora entender a realidade de minhas perguntas, mesmo que nem eu acreditasse em minha sanidade. Os insights estavam muito frequentes - sempre me pegavam de surpresa, por mais que os desejasse. Vinham nos momentos mais oportunos, e eram o principal motivo de meu reconhecimento no Alvar Tiotte. Meu colégio já não cabia nos meus cadernos e toda aquela polêmica da "garota da luz" já estava me matando. O cansaço e o desgaste da idolatração indesejada ficavam cada vez mais nítidos em minhas olheiras. Pensava seriamente em parar de usar meus despertares em meu proveito. Surgia cada vez mais um sentimento de culpa em mim por não medir minha responsabilidade e fazer mal uso de meu dom. Não um mal uso que prejudica alguém. Na verdade, prejudica, mas a única pessoa que sai em desvantagem nisso tudo sou eu mesma. Esse estrelismo repugnante e essa posse sobre as notas do Tiotte, isso tudo não era meu, não era para mim. Era para o meu talento, para este segundo ser que reina em absoluta vaidade em algum lugar do meu sub-consciente. E eu sabia que estava abusando dele, desta criaturinha que me transformou em deusa, coisa que eu nunca fui.
Lembro que desde pequena eu tive esse tipo de... sorte. Tinha idéias de última hora - e por sorte nenhuma delas me matou. Minha mãe, Dona Nandy, era quem mais se orgulhava de "mim".  Dizia que era um dom que Deus tinha me dado, que tem pessoas especiais que vêm ao mundo para ajudar aos desorientados. Desorientada estava eu na minha própria cabeça. As coisas acontecem tão rápido quando se trata dos meus insights, que, na verdade, eu não consigo nem lembrar do que faço, o tormento me toma por inteiro.
Meus amigos são os que mais me motivam a crer em mim mesma. Sarah é o meu anjo da guarda, bem como Bethy, a amiga de vinte e poucos, Miguel, o ex-namoradinho de infância, e Lil. Lil era encantador. Somos amigos há uns cinco anos, e creio que para uma menina de 18 anos que se encontra na época de um rodízio incansável de amigos, isso é um bom tempo. E ele era delicado até o último pêlo do braço. Sorridente, entusiasmante, amigo pra chorar e bagunçar. E tinha uma bela forma - se precisar de alguém para organizar um acampamento, treinar grupos de gincana, chame o Lil, melhor que ele, só Estevão - mas isso é outra coisa.

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