segunda-feira, 9 de abril de 2018

A varanda.


Aquele dia eu desaguei
Virei o eco de uma dor que vinha do fundo do peito e transbordou pelos olhos
Meu rosto marcado pela trilha das lágrimas e a boca com gosto de cigarro
O cigarro que eu fumei na tua varanda enquanto tu pendia em sono no sofá
E eu ali
Desaguando e fumando e chorando e morrendo
Eu sabia que ia doer
Já tava doendo
E doeu mais
E como foi horrível ver o amor morrendo na minha frente
Bem ali, agonizando naquela varanda
Apagando naquela cinza de cigarro
Escorrendo naquela lágrima
Um amor que morreu e respirava com ajuda de aparelhos
Voltei da sacada, te vi no sofá, desliguei a TV e te chamei pra cama
Dormimos com o cadáver de um amor entre a gente
E como eu já sabia, o velório chegou
E nesse dia eu acendi mais um cigarro
E desaguei mais
Dessa vez, sem a varanda.

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