quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cotovelos na janela.

Outro ano vem se mostrando. Glamuroso, expõe a leveza de seus novos dias, os sonhos mais confidenciais. Mostra-se como a senha para a nova era. E não pode, então, ser apenas mais um delírio, mais uma utopia que o ser humano cria para justificar a sua dita cuja enésima chance? Serão apenas mais trezentos e sessenta e cinco dias, nada mais que normais, encaixados no mesmo padrão semanal e mensal e anual, separados pelos mesmos fins de semana. As horas? Continuam sendo as mesmas vinte e quatro, os minutos não mudam também. O que muda é o que faremos com eles, mas nem sempre muda tanto assim. E é o mesmo papo a cada fim de ano, sempre nós com esperanças novas, ou as mesmas que não puderam realizar-se neste tempo, e deixamos para o próximo. Sempre esperando a grande mudança, que parece vir a cavalo, e os cotovelos inchados de tanto preencher o vazio da janela. Cotovelos na janela, na cela, isto mais parece uma mazela na alma, esse desejo infernal de querer mais do que já se pôde conseguir. A janela que vive em cada peito, e todos nós que cedo ou tarde corremos a fim de contemplá-la! Essas molduras enganosas. Venenosas. Veneno nas asas, nas asas do espírito de cada um que cria as suas para não saber o momento de usá-las.
Sempre os mesmo rumos, os mesmos dias, os mesmos feriados, os mesmos acasos, os meses casados na mesa de casa. E a gente, servindo-se do mesmo prato, procurando o sabor diferente. Nosso destino é tentar mudar o imutável, é fechar os olhos para o irrefutável, anestesiar o corpo e o cérebro. Porque melhor é não sentir do que ter de abrir os olhos para ver o mesmo filme, pela milionésima vez. Pelo menos dessa vez foi diferente, dessa vez não se sentiu.
Este fim, que na verdade é o recomeço, ilustra a sutura das nossas feridas mais íntimas. Mas sabemos que podemos mudar o cenário, até mesmo os personagens, o que não podemos mudar é o enredo, com alguns scripts indiscutivelmente clichês.

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