De todo o coração, nem todo quase
fim é argumento para um bom começo. Talvez as piores estórias comecem
justamente desse jeito; com (res)sentimentos pela metade, quase crus ou quase
cozidos. As marteladas finais do destino deveriam ser obrigatórias: quem dera
fôssemos oito ou oitenta e parássemos de ser 17, 38, 62...
Não aceito a condição de ter só
um pouquinho, sentir de faz de conta, viver só até onde não gerar riscos. A
vida por si só já tem seu painel todo rabiscado, sem mínimas previsões. Os
laços não podem ser tão frouxos que se desfaçam na força de um sopro – desse jeito,
nenhuma estrutura resiste – e nem tão firmes que sufoquem – desse jeito,
ninguém coexiste.
“Quase” talvez seja minha pior
palavra. Tão pior que me lembra mais uma vez todas as coisas que quase puderam ser e não foram. Quase me
perco nessa confusão, mas e se me perdesse de verdade? E se finalmente me
achassem? Não sei por onde anda quem quase apareceu. Não sei o que ainda está
fazendo aqui quem quase foi embora. Queria que aparece a oito metros quem vai
me achar e desaparecesse por oitenta anos quem faz eu me perder.
Doce, não. Amarga ilusão. Esse
lugar onde tudo poderia acontecer, essa utopia onde habito congelou meus
pensamentos em sua ignorância, e a dor não tarda em chegar. Ainda encontro a
marca de suas pegadas em volta de meu cativeiro semifeliz, utópico, mas de onde um
dia teria que sair. A crueldade está de aviso há tempos nos vidros embaçados,
nos anúncios em postes, nos classificados dos jornais. Meu lugar quase perfeito
está se desmanchando outra vez... Estava indo bem sua construção. Esse coração-castelo-de-areia
é realmente um "quase" imprevisível. Quem sabe aos oitenta as coisas melhorem...
Ainda me perco na inocência dos oito.
ela tinha que mete a matemática no meio....
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