sábado, 15 de janeiro de 2011

Sobre as coisas que não são nossas.

Coisas que não são nossas. O maldito querer de tudo o que não é nosso, o vício diabólico da posse de coisas que nunca foram possuídas. Pessoas que não são propriedades, e nós que nem somos nossos. Nem os sentimentos podem ter dono, afinal há sempre um referencial, até para estes. Sempre divididos, sempre pela metade, e mesmo assim gritando liberdade. Trabalhos, responsabilidades, deveres maiores que o mundo. E lá vamos nós, guardando tanta coisa, tanta vida, tanta energia para o quê? Para um futuro que nunca chega? Amigo meu, creio que já lembraste a essas alturas que nosso tempo é agora. A casa, o carro, o status. Nada é nosso. Nem as palavras que saem, nem os medos que temos. Nem as utopias, nem as feridas, porque elas ficam.  No leito de morte, elas ficam. Esquecemo-nos, dormimos, sonhamos, quem sabe. Ninguém sabe. Ninguém nunca saberá, nenhuma versão nos foi apresentado. Aliás, minto: são tantas teorias, tantos devaneios! Engana-te, olha pra frente! Vamos viver, seguir nossos sonhos. Faz parte dos olhos do ser humano ter o ângulo de sua visão além do permitido, além do recomendado. Lembremos, porém, que a consciência é o que guia nossos passos no escuro, sabendo muito bem que caminhamos em terreno nebuloso, e se a cobra nos enlaçar pelo tornozelo, a picada será inevitável, a dor inadiável, a morte intransferível. Mas a doença, a lamúria bate tantas vezes à nossa porta, que muitas vezes morremos de luz acesa. Morremos no auge da vontade, e nem sempre sabemos como emergir.
Não se pode ter tudo. Não se tem tudo, aliás, não se tem nada. Ou se tem nada. E mesmo o nada, o tão vazio nada, é em muitos momentos, o que melhor preenche, o que melhor explica. Decapitamos nossos sonhos, nossos anseios, nossas promessas são esquecidas, ou quebradas. Mas quem sabe, no meio desse nada, desse nada que é a única coisa que é nossa, encontremos enterrados os sonhos, os amores, as flores que perfumam tudo o que nunca foi tudo, mas nem por isso perdem o direito de sê-lo. E podemos recortar e colar em nosso mural o que já sabemos que não é meu, nem seu, mas o nada está vazio e pronto para ser recheado. A gente projeta tanto, vê tanto onde só há um fim tão próximo... Vamos brincar de sonhar?

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