Sem intenções. Sem
novidades. Estavam apenas nus, aqueles olhares. Dois desconhecidos que ergueram
os olhos ao mesmo e tempo e se descobriram perplexos ao se encararem
forçadamente.
É curioso como o olhar nos
entrega. Não é à toa que chamam os olhos de “janelas da alma”. Quando fitamos
sem querer alguém que também encontra nossos olhos sem intenção, é como se as
janelas estivessem com as cortinas abertas e lá no cômodo alguém troca de roupa
furtivamente, na tentativa de não ser pego em flagra. E assim como rapidamente
se desvia o olhar, rapidamente se fecham as cortinas na tentativa de que o
embaraço seja amenizado, como se fosse um grão de areia ao invés de um elefante desengonçado entre as duas grandes janelas.
O porquê de desviarmos o
olhar tão pasmos como se tivéssemos sido invadidos, não sei. Mas sei que
congelo cada vez que meu olhar se descobre nu sobre a nudez de outro par de
olhos – uma intimidade repentina, um soco na boca do estômago, uma cilada,
Bino! – e fico me perguntando se é um sinal do universo ou coisa parecida
cruzar duas janelas distantes ao mesmo tempo. Quem sabe seja essa a agulha no
palheiro do mundo dos olhares.
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