terça-feira, 5 de abril de 2011

Saudade.

Senti saudade. E vazio. Sim, um vazio escuro, mórbido e gelado. Mas eufórico, louco para ser preenchido. Insano, talvez. Mas sei e sei-o bem que de insana nada me resta. Quem sabe imersa em pensamentos e vislumbres, tão distantes que equivaler-se-iam aos delírios de herr Roller, mas não àquele tipo de insanidade cruel, que machuca os punhos e dói no corpo e no tempo em que se está acordado.
Estava tão confusa, tão sem cor! A palidez dos dias mansos me entediam, me cegam. Acorrentam. Quem sabe por isso a negligência com o que só pode ser meu, e sempre será.
Havia tempos que não parara. O enxofre fora imposto como súlfur, e não pude perceber a impotência que me paralisara. Meus dedos não sabiam por onde tocar, e meus sonhos derretiam pelas frestas, cada vez maiores, das fantasias que se desfaziam. O colorido ia levemente se confundindo, e parecia estar tomando um tom curiosamente negro. A paisagem estava antiga, corroída nas bordas. Porém, o que estava realmente vazio e corroído, e mastigado e remoído era o meio da história, que não aparentava mais sentido algum.
Saboreio agora a volta, repentina e idolatrada. Ela sempre chega, sempre aparece. Uma hora ou outra, porque sei que não há como evitar o que é e nunca deixará de vir. Nunca deixará porque nunca partiu, nunca abandonou, nem houve tal vácuo no que não se pode remexer, pela simplicidade de já estar abarrotado.
E a fobia. Tenho fobia à fobia. Ela me aprisionou ao pé do mundo e me deixou lá, pensando no que não saber. Porque o medo me anestesiou da pior maneira, porque me deixou consciente o suficiente para ver tudo abalar e nada acontecer. O mais miúdo sentimento era motivo para desmoralização total de mim para mim mesma, e eu fiquei levitando entre os prés e os pós, e nunca completava o ínterim. Mas já se fora todo a malignidade e truculência, e agora me chegaram boas novas, bossa nova que embala meu coração e me puxa pela mão para embulhar o velho e jogar na lixeira da frente de casa. O lixo está com um odor triste e molhado, quem sabe pelo orvalho que nas últimas noites depositou-se em si. Ou quem sabe pelas lágrimas do que era tão meu, mas que nem queria, porque nem harmonizava. Já estava na hora de ser ríspida o bastante para que essa podridão saísse logo e desse lugar para o que realmente me é. E que saudades nunca mais sentirei daquela dor obsoleta do que não cabe no meu travesseiro! Porque não se ajusta o que não pode adequar, e não entendo o que não posso sentir. E que saudades sentira de estar aqui, e que melancolia ao lembrar das velhas palavras, dos sonhos e das imagens estáticas e sem vivência, mas nem por isso sem sentido real. Sentido, sentir. Lembra-me um de meus devaneios. E eu que havera parado de sentir, volto tomada de algo que ainda não sei resumir. Que saudade desse sentimento tão encantado que mal o posso explicar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário