domingo, 27 de fevereiro de 2011

Envenenados.

Chegara. Ela voltou com seu blazer mal abotoado, está com a expressão amassada. Não com o rosto, mas com o olhar desestruturado, um típico redemoinho de máculas nas janelas do seu ser. As lágrimas escorrem secas, os lábios estão opacos e jogados ao azar. A bagunça dos cabelos não reflete nem um pouco da desordem de seu rumo. As mãos agora movimentam-se lenta e dolorosamnte, já sabem que são movimentos inúteis. O orgulho soltara os braços dela. Mas já anoitecera, e a voz do indesejado soa cada vez mais alto no ouvidos. O dia grita, ameaça e morde os pedaços sãos da caminhada derrotada da moça desiludida.
Ele partiu. Ele foi. Poderia ter sido, estado, ficado, permanecido, continuado. Seria a sua eterna ligação. Mas os seus momentos transitórios não deixam que haja mais que sua essência. E ela chora. Mas não era só, porque lhe abraçava a solidão, e suas mãos não eram vazias, uma vez que a aliança ainda as sujava. Ela disse querer o fim, mas ela queria a mesma coisa, mas nova, quem sabe matemática. Coisa feita, sabe? Daquelas que a gente resolve e coça o antebraço, porque acabou e será.
Sabia que era assim. Agora corre para a estação e cria metáforas nas cenas que vê. Disse que a vida dela é o trem, cheio de vagões, e que as janelas são o máximo que pôde ver por fora, e só entrando para entender e prosseguir. Mas uma hora a saída chega. A vicissitude da vida leva a descobrirmos outro vagão, igualmente incompreensível, singular e turvo.
Ela quis parar o trem, mas ela sabe, ela sempre soube que não podia. Agora perdeu a vontade, não sente mais o gosto do morango que enfeita o bolo da padaria, mas que não adoça o suficiente para torná-lo bom.
Nada mais tem gosto. A fragrância magoada conta que ela nunca mais voltará a sentir. Já sabe que é veneno que mata o coração, mas deixa impune o corpo. Já sabe que é veneno que matou o coração, mas deixou impune o corpo.

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