terça-feira, 21 de setembro de 2010

Couro respingado

Pela manhã a chuva morna e calma alastrando-se-ia a cada instante. Por saber de sua intolerância, pus-me aquele velho casaco de couro que guardo entre os desentendimentos das roupas vãs. E vou a encarar a expressão tediosa do dia. Mais um dia. Mais este, mais esta vida, mais estas pessoas e este mundo. A frieza do tempo que gruda nos cabelos e suja em água as roupas jeans, e o aspecto pegajoso da chuva que insiste em existir.
E nesse tempo, onde encontro o cobertor? Por que lugar passa o filme de romance da tarde chuvosa, e o sofá, onde está? E a mão quente da pessoa amada, e a tranquilidade dos dias úmidos? Não está perto, não por agora.
A diversão dos colégios, o ânimo da vida são alguns que escapam, ao menos em parte, desses dias nebulosos. E o sol da seca passa a ser mais uma adivinhação falha dessas cabeças terrestres. Mais uma vez desmentidos pela natureza.
Nos cabe, então transformar o dia doente em sadio com as poucas armas ainda presentes, com as poucas piadas que ainda tem graça, com as poucas cores que não se confundem com cinza nesses tempos demolidos.

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