Minhas estradas são curiosas. Por vezes o sol aterrissa em
seu solo e vou sendo levada pela luz, envolta no ar quente e doce que o astro
me cede. Mas minha caminhada fica difícil no frio da chuva, quando me sujo de
lama e lambuzo meu coração. Quando minha estrada me deixa encardida, quero
parar. A caminhada é mais fácil no sol.
Estive andando por um caminho enlameado, cheio de pedrinhas
que só me machucavam mais um pouco e mais um pouco. Coisas pequenas, porque
vocês são tão cruéis? Tudo andava amontoado demais para continuar existindo. Eu
podia sentir o peso de cada dor todos os segundos que passavam, e acho que só estava esperando o momento certo de largar todas as bagagens desnecessárias
que me obriguei a trazer.
O sol apareceu aos poucos, lenta e calmamente ele me
descobriu. Descobriu o pano escuro que me envolvia, descobriu meus olhos das
vendas que estavam grudadas neles. O sol estava desabrochando pra mim do jeito
mais macio que podia.
Uma tarde é o bastante para entendermos a doçura de uma
estrada ensolarada. Os risos, as brincadeiras, os amigos, os amores e tudo tão
afável que era quase impossível. Mas eu vi com meus olhos e meu coração sentiu
o hálito delicioso daquele amor. Tardes de um verão de faz-de-conta, lindas e
eternizadas. E naquela hora eu ri com um prazer bobo, com um carinho quieto e
apaixonado por tudo o que era tão singelo, tão banal e tão maravilhoso. O sol é
maravilhoso.