Vi pessoas sendo resgatadas. Vi bebês sendo atacados por monstros. Vi uma arca. Todos os personagens feitos de nuvens, todos de algodão, pareciam tão reais que quase contracenaram comigo e com os pássaros que voavam por ali. Havia escuridão. Sim, até nos céus há a escuridão: a escuridão que anuncia as tempestades, a escuridão da noite...
Quase chorei. Emocionei-me ao ver os pássaros. Estava sozinha, ouvindo "Canção pra você viver mais", fiquei imóvel frente aos desenhos que as nuvens traçavam no céu. Olhava, sentia e sorria. E percebi as lágrimas vindo incontidamente, e vi as aves livres, e meu coração transbordou. Gostei de ver as fotografias no céu, mas era o aviso que as chuvas mandavam, e logo as imagens se desfaziam. E não é assim? Nossa vida de açúcar se faz e se desmancha todo tempo. Resta-nos pôr o castelo nas alturas cada vez que desmoronam.
Mas hoje, as imagens estampadas no azul infinito foram a minha vitamina, mesmo que já no fim da tarde. O vento que soprava me fez leve, quase breve, mas não fora lacônico o suficiente para que eu não sentisse minhas veias extasiadas de emoção e de admiração. Quanto tempo demora o espetáculo? Para cada um dura o tempo que for necessário para que se o saiba apreciar verdadeiramente. Quero eu apreciar cada detalhe e cada grão de bem e de mal! Quero eu nunca mais sair desse palco, por mais amplo que me esteja prometido o céu; por mais infinito que pareça o que eu não conheço.
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