domingo, 11 de setembro de 2011

A espera turva.

Sentara-se como sempre no banco costumeiro, pois voltava do mesmo lugar de sempre. O expediente torturante do dia acabara. Agora ela pendia sozinha no tempo, que não a estava ajudando.
Esperava o ônibus calmamente, olhando de modo despreocupado para tudo. E então ela viu. O homem de óculos escuros, a expressão dura, o olhar que lhe lançava era pesado como chumbo. Que faz agora? Atenta, tentou encontrar em si alguma maneira de cessar a angústia: "Está me olhando, está me olhando... Fiz eu alguma coisa ao homem? Quero ir para casa. Tenho trabalho a fazer. O homem, o homem."
Resolveu encarar a figura estranha e obscura. Mexeu com precisão na bolsa, arrancou dali um livro e abriu-o onde havia parado. Sorriu, na esperança de desmotivar o homem. Agora passava segurança. Endireitou a postura, mascarou-se com uma expressão gozada, de superioridade. Riu-se sozinha mais uma vez.
E o ônibus foi passando, ela sorrindo. Pensava se o homem sabia seu nome. Se jogaria pela janela um bilhete: "Que moça desafiadora. Será tão destemida a nossa Louise?" Estava perdida em conjecturas.
E quando olhou denovo, o homem havia sumido. O homem que não era homem. Pensou porque uma figura tão particular roubaria o lugar de uma moça simples sentada nos últimos bancos. Mais uma vez criara seus inimigos. As consultas ao oculista iam sendo adiadas e adiadas. Ela juntou o alívio no peito e riu-se, desta vez de felicidade. Dava um valor estranhamente significativo a qualquer liberdade.

Um comentário:

  1. Que texto mais divertido, querida!
    "Está me olhando, está me olhando... Fiz eu alguma coisa ao homem? Quero ir para casa. Tenho trabalho a fazer. O homem, o homem."
    Hahá, esse é o tipo de coisa bem típico de mim! Por isso me identifiquei tanto!
    Anyway, me desculpe a ausência. Ando com problemas por aqui, mas a visitarei sempre que possível!
    Beijos, G.
    www.2pitadasdesal.blogspot.com

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