Estava doendo - meus dedos, estavam coçando, precisavam da droga - precisavam da parte mais imponente de mim. Necessitava verbalizar, era urgente. Gritava em mim a ânsia de expulsar os fundos falsos revirados. É assim comigo, sempre foi. Pra enxergar o que ainda está por vir, eu preciso me libertar. Os tapumes estavam me cegando, eu queria sair, mas a urgência sempre ia se adiando. Agora basta. Estou aqui e pronto. Matando a fome e a sede.
São estas palavras, estes momentos que me declaram humana. Vivo disso, desse meu falar pro mundo, dessa vontade incessante de escrever - desta saudade, longe e perto, florescendo todos os dias dentro de mim.
E eu já falei de dores, de amores, de tempos bons e tempos mornos. Já falei dos dias de janeiro, das danças de fevereiro, das chuvas de setembro, das flores e das borboletas. Um emaranhado de "eus", todos com sua devida compostura, assegurando minha identidade em cada traço e cada verso.
Alguém escreveu - e como se não bastasse, eu li - e quase definiu a sua vontade. Isso foi curioso, porque a tentativa é bonita, mas é mais ainda quando bem-sucedida. E eu acreditei, porque isso refletiu em alguma coisa parecida dentro da minha trilha criptografada. Deixo-lhes com um pedaço de "Quero escrever...", texto de autoria de Bernardo Coelho.
Quero escrever...
"(...)
Quero escrever
Ser voz, gritar
Meu peito abrir, te fazer pensar
Deixar de ser apenas mais um grão de um mar
Gravar palavras que perdurem mesmo depois que eu passar.
E que cheguem onde eu menos consigo imaginar
No seu coração, na sua alma, no seu ser
Quero escrever."
Nenhum comentário:
Postar um comentário