segunda-feira, 11 de julho de 2011

Nevrino.

A lã pesada que envolve os dias só faz escurescer - é a lã ou o céu que está naturalmente cinzento? Mais uma vez, o vento glacial cortante como navalha-não-tão-má levou os pensamentos para longe.
Congelando os dedos e a ponta do nariz, jogando-nos roupas e couros no colo, enfeitando os gramados com a sua branquidão, lá vem ele, e quando vemos, já está aqui.
É tempo dos abraços, dos beijos quentes, do casulo que vive conosco, mas que não podemos deixá-lo à mostra. Esses tempos com cheiro de gelo despertam cada vez mais a vontade do hermético, dos livros, do calor do chocolate quente. É a hora da calmaria - nosso momento de cama quente e coração aquecido.
Aquecido. Coração aquecido. Será? Alguns ainda procuram pelo seu cobertor, mas há tanto o que admirar nesse inverno! É estação triste, eu sei, mas nem por isso perde sua magia. Linda, elegante, completamente exuberante e graciosa, convida-nos aos filmes românticos, ao clima francês melancólico, ao amor que esquenta, mas sem pegar fogo - um calor discreto, que quase não faz barulho, mas ainda assim, faz crepitar o coração. Desmancha o gelo do ermo que se criou, e esses cinzas, pretos, beges e marrons só se fazem mais belos, mais mortos, talvez. No entanto, sempre convidativos.
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A longevidade desse frio é o que faz amadurecer os ramos frondosos coloridos. Gelado, sim, gelado demais! Mas toda a alma tem seu inverno, todo som tem seu espaço mudo, se assim não fora nada florescia. A brisa gélida de julho só faz doer mais os anagramas que a vida faz com nossos pensamentos, movimentos pulsantes, mas é assim que se aprende.
Olhando para seu próprio casulo. Olhando, olhando... No tempo do sol ou do calor é que não se faz isso. É a hora que chega para relermos nossos próprios scripts, refazermos nosso texto, focarmos no nosso calor próprio, amor próprio, chega de auscultar. Sem escória dos outros, sem queimaduras. Hoje é o dia de celebrar a chuva, que leva os vestígios de maldade apenas com sua beleza. Hoje é dia de namorar a lareira, hibernar em si mesmo, esquentar o coração com as próprias mãos.

Um comentário:

  1. Assim eu fico com vontade de frio, de inverno (e isso é geograficamente impossível para mim!). Mas teu texto me inspirou loucamente a ligar o ar-condicionado na temperatura mínima, pegar um xícara de chocolate quente e assistir a um bom filme debaixo do cobertor! Obrigada por me trazer o inverno, quem sabe assim eu mesma possa aquecer meu coração!
    Beijos, querida.

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