Daria todas as estrelas do céu, se possível, para que eles não sofressem. Distrairia-lhes para que não vissem, brincaríamos a tarde toda para que não sentissem. Eles são tão pequenos para atrocidades tão grandes!
Estava a pensar um dia no meu cantinho. Lembrava de minhas brincadeiras de infância, de meus sonhos pueris, de meu olhar ingênuo. Do balanço que o vento tinha, das bagunças com meus vizinhos, dos cartõezinhos pro meu pai... Desenhos animados, fitas da Xuxa, pular corda na rua, os bebezões... No momento em que sorri, parei. Imaginei como seriam os pensamentos das crianças que não têm as suas bonecas, o seu lar aconchegante, a sua caminha com edredom cor-de-rosa, o edredom que eu tanto adorava. Fiquei tentando descobrir do que elas se lembrariam, o que trariam consigo a respeito de sua infância. Drogas? Baixaria na televisão? Baixaria em casa? Vergonha? Vingança?
Estremeci. Crianças que não são mais crianças. Pensamentos doentes, uma fase ultrapassada, que passa correndo sem nem dar um adeus. Imagens invasivas demais para cabeças de sete ou oito anos absorverem.