quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A velha, a floresta e umas camuflagens.

Uma cadeira velha pende vazia no chão fértil. Acabo de vê-la. Está saindo, está vindo. Pronto, o vazio da cadeira está prenchido. A velha, magra e lívida, observa atentamente à tudo. É astuta, voraz como um xerife vindo diretamente dos faroestes, só lhe falta a estrela. Ó, não, havia me esquecido! Quantas estrelas a senhora traz pendurada ao casaco roto? São broches antigos, enferrujandos, mas demonstram, em algum momento, sua majestade. Para aquela velha de olheiras profundas seu significado deve ser maior que para mim, que apenas a observo por entre as folhagens... A floresta. O refúgio da mulher. Sentada em seu pedestal com o acolchoado rasgado, o castelo de madeira carcomida que forma a paisagem por detrás de seus ombros rígidos. E seus cabelos... São eles nuvens assustadas cujo medo de tocarem-se os extremos é tanto que formam coodernadas malucas, eixos completamente inusitados. Poderia comparar sua cor ao algodão, mas são mais que alvos,  porque são finos, quase transparecem o verdume da floresta quando a velha se levanta. A arma ainda está agarrada ao seu colo. Ela ainda está sentada. Mas não há de ser por muito tempo, pois seus olhos já avistaram uma presa. Lá vai a velha mirar e acertar o alvo, e lá se vai outro animalzinho agonizar na tão vasta floresta. Esta mulher, creio que foi muito machucada quando mais moça. Se bem que a sua velhice é mais aguda em seus olhos, o que faz parecer que já nasceu idosa. Quem sabe seja só a camuflagem... A vizinhança, pouca e amedrontada, resguarda-se e mantém distância do amontoado de ossos vagante. É que a velha é nevoenta, poucos são os dias em que faz tempo bom em seu humor, e penso eu que nunca alguém presenciou tal feito. Mas isso não impede que o mesmo tenha ocorrido. O fato é que ela assusta, parte por sua ossatura saliente nos tornozelos, joelhos, cotovelos e nas mãos, cúmplices das atrocidades da aberração; parte pelo medo que exala. E ele não está concentrado em suas armas, em suas camuflagens. O pavor que sentem todos da velha vem de seu jeito de olhar, pra tudo. Os olhos esbugalhados, marcados da idade e das noites que passa em claro, lendo livros com a capa manchada de café, um olhar pesaroso, negro e fundo. Não sei ao certo se é medo de sabermos que a velha pode ler a nós mesmos, ler o que nem sabemos ainda, uma vez que o olhar dela intimida, não que seja telepata, a senhora está longe de qualquer sexto sentido, nem sabemos se ela tem os cinco; ou se é medo de ver o que é feio, conhecer um pouco da vida dessa estranha que, aparentemente, gosta de sua estranheza.
Esquálida, nem mais sorri. É uma carranca que traz à frente de si. É um espectro tão horrível! Ninguém mais ousa entender a existência daquela criatura. Não se sabe ao certo onde nasceu. se foi casada, se é nativa, mesmo que lá os nativos sejam bronzeados, e a mulher é papel branco amassado. Gostei de minha comparação. Papel branco amassado. Seca como papel, branca como cal, enrugada como se tivesse sido toda amassada. Vive sozinha, e fica. Nem os animais escapam de sua solidão. Ela precisa do vazio. Ela gosta. Ninguém sabe o porquê. Os moradores dali a chamam Velha Woodfor. Dizem que ela merece apodrecer como a madeira que (ainda) segura sua casa, por tanta amargura que trouxe ao lugar. Mas algum motivo deve haver para essa velha. Ninguém morre aos poucos porque quer. Quem sabe seja só a camuflagem...

Um comentário:

  1. Lenaaaaa♥
    Finalmente a velha Woodfor. Ficou pereita!!!
    Adorei. Beijo na testa da velha. HÁ * > *

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