Enferrujado.
Eu nunca consegui falar. Nem
voltar. É do que estamos falando, não é? Nossa separação... Nossa. Minha. Você
não entende. Nunca vai entender. Mas eu preciso tentar, nem que seja só dessa
vez.
Talvez a coisa mais dura, mais
difícil e letal que eu tenha feito na minha vida e ainda assim ficar vivo foi
te deixar pra trás. Minhas palavras doem em mim. Sinto-me sujo com nossa
verdade. Desculpe, desculpe.
Eu juro, eu vou tentar mudar...
Eu queria que você me ouvisse! Queria poder gritar meu amor por ti. Mas não há
como. Não posso dizer “não havia como”. Reconheço que minha decisão foi
consciente, e nem posso imputar em minha covardia uma vergonha que só ganhei
depois de velho. A velhice, meu filho, me corroeu, corroeu tudo o que um
coração gelado e vazio podia sonhar em ter. Deixar meu primogênito foi a única
coisa que meu corpo falho conseguiu fazer, porque por dentro... Eu era cacos.
Frangalhos. Não havia nada naquele momento que pudesse recuperar minha felicidade.
A sua mãe... A mulher mais linda e mais forte que eu já conheci. Se fosse eu,
não sei como agiria. Sentia por ela um amor impetuoso, um sentimento tão forte
que tirou de mim todos os eixos que eu pude ter um dia. Como eu podia deixar de
viver um amor como esse? Meu querido, perdoe-me... Eu sei, nunca estive aí pra
entender a dor de vocês, mas acredite, a única coisa boa que eu trouxe durante
essa longa caminhada foi o sorriso da tua madre e a convicção desse amor
perpetuado. Perdoa-me pelo egoísmo, perdoa-me! Mas tua vida pra mim é um mar de
alegrias, e queria eu que tu entendesses minha moléstia! Hoje volto, e digo
volto assumindo que um dia parti... Esse sangue que hoje tu deves estar
amaldiçoando foi o mesmo que me fez vos deixar sem rumo um dia. Esses laços que
forçaram-me a deixar para trás o único motivo por qual viver são os mais
cruéis. O que tu sofres hoje, eu sofri em vida. Sei que nada justifica meu ato.
Mas entenda, hoje eu clamo que me perdoes, filho!
Meu único pedido é que
entendas que meu adeus calado gritava em meu peito que eu voltasse para os
vossos braços. Os braços mais felizes da minha vida. Se eu pudesse tirar de mim
todo o fardo da herança, lançaria-o ao vento para que nada mais o
trouxesse. Por isso, peço teu perdão. Porque
pra mim, não há dor maior do que saber que a minha honra criou-se enferrujada
no coração do meu menino de ouro.
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