Quase todos os filmes feitos para adolescentes e jovens adultos trazem alguma cena que
expressa “liberdade”. Seja dirigindo e cantando alto, seja vendo o nascer do
sol com os amigos. A formatura do ensino médio, ver as estrelas com o
namorado... Algo nesse sentido. E tenho a liberdade de dizer – ou penso ter –
que todo ser humano já teve a sensação de se libertar até mesmo de si. Existe
essa vontade de querer voar sabe-se lá pra onde, gritar até cansar, como se
isso fosse estraçalhar a ansiedade que existe dentro da gente em algum lugar.
Chorar até esgotar a dor ou a ânsia ou o pavor, não sei. Em mim existe de tudo
um pouco, e tento me convencer que essas coisas, na verdade, sempre existiram,
só estão mais acentuadas. Dá pra acreditar nisso? Quando eu lembro que houve
dias sem tantas lágrimas, sem tanto desespero e sem tanta angústia, eu digo que
não, não dá pra acreditar.
Talvez - e digo isso sem tanta
convicção – seja assim mesmo. Talvez essas coisas sempre tenham existido.
Talvez os problemas dos outros sejam tão grandes quanto os nossos, ou maiores.
Mas vou ser muito mentirosa se disser que consigo entender isso completamente.
Quando é a sua vez de sentir as coisas, você descobre que não é tão altruísta
assim. Eu pelo menos sei que não sou, e assumindo isso não quero ser nenhuma
detentora da verdade ou da humildade. O intuito, na verdade, é identificar meus
irmãos de “egocentrismo”. Não estou sozinha, sim?
E sabe de uma coisa? Embora
existam todos esses perigos, o risco de fazer a escolha errada, o risco de não
conseguir sozinha de primeira, existe o risco de ser livre. Livre que nem a
gente fica quando olha as estrelas com o namorado, ou quando a gente canta
“Man! I Feel Like a Woman” alto no carro – carros são o forte desse texto,
hein? – ou quando a gente vê o nascer do sol com os amigos. Livre como quando a
praia é só nossa ou quando nosso quarto é pequeno mas está tocando aquela
música, e ouvindo ela é como se só existisse você e a sua liberdade no mundo.
Não é uma cena de filme adolescente que traduz a liberdade, nem o sonho com o
carro batido. Essas coisas, no meu modo de ver, não chegam nem perto da
sensação da tão famosa “freedom”. São metáforas que enfeitam textos como esse,
mas pra corações aflitos por serem livres, é a maneira mais alegre e palpável
pra explicar o que só se consegue sentir. Nesse caso, discordo de Clarice:
liberdade pra mim não é pouco. Se vier com um carro de brinde então, negócio fechado.