Peru de Natal.
Sinto as dores sempre antes do
parto, e sofro por cada pontada sentida. Sofro por cada chute – os que dou e os
que recebo. Um PhD em angústia. Um homem com coração de mulher, mas com a frieza masculina dos adeus.
Meu bem, devo lhe avisar que já
sofro por nosso fim. Tenho chorado por dias e fico vagando nas mesmas dúvidas,
e sempre caio nos mesmos becos escuros que trago dentro de mim. E por lá fico,
estirado nos meios-fios, sentindo os arrepios do frio que a sua falta vai me
fazer. Estou desenhando a cena, e agora percebo que vivo uma separação antes da
despedida. Devo estar tentando me acostumar com a ideia.
Ouvi uma história sobre “amores
tatuagens”. Não sei se nosso fim nos dará espaço pra boas lembranças, mas
nossas tatuagens com certeza são bonitas. Do tipo coloridas, que não desbotam
tão fácil, e qualquer um que pudesse sentir como nós as amaria.
E quando ando por aí vejo o seu
rosto triste me perseguindo e me lembrando da despedida que vamos adiando.
Então não é esse o segredo dos grandes amores? As despedidas que encerram a
programação na melhor parte do filme. Nosso ápice que nunca vai acontecer.
Que
pena, meu amor, darmo-nos conta desse amor tão ilusório, tão frágil e
praticamente enterrado. Antevejo a dor, as discussões e os momentos lúgubres
que antecederão o fim. É triste endereçar nosso futuro ao fracasso. Já não
depende mais só de você.